Pessoas com autismo têm dificuldades de interação e intuição social; entenda a síndrome

Pesquisas sugerem, ainda, que crianças com a condição apresentam obstáculos para desenvolver uma ‘teoria da mente’, ou seja, para compreender o que os outros estão sentindo ou pensando

  • Por Camila Magalhães
  • 30/09/2021 09h00
Unsplash/Caleb Woods Criança brincando com blocos coloridos em cima de um sofá marrom. Só aparece metade do rosto e uma camiseta pólo branca com listras verdes e vermelhas Autismo afeta cerca de uma a cada 500 pessoas no mundo

Na coluna desta quinta-feira, 30, vou falar de um assunto muito importante e delicado: o autismo. Para que os leitores compreendam melhor, começarei explicando sobre o conceito de habilidade social. Imagine a seguinte cena: duas crianças estão brincando e uma delas cai e começa a chorar. A outra se aproxima e oferece um brinquedo para consolá-la. A intuição social é natural para a maioria de nós, mas não para todos. O autismo afeta cerca de uma a cada 500 pessoas no mundo e aqueles que possuem essa condição apresentam, antes dos três anos, pouca interação social, atraso ou ausência de linguagem e interesse por determinadas atividades ou partes específicas de objetos. Essas três áreas, ou seja, habilidades sociais, prejuízo na comunicação e padrões de comportamentos repetitivos ou restritos podem estar comprometidas em diferentes grau, mas todas estão alteradas nas pessoas dentro deste espectro.

Paralelamente à dificuldade desde o nascimento que a pessoa autista tem pra entrar em sintonia afetiva com os outros, os pesquisadores sugeriram que as crianças têm dificuldades na habilidade de desenvolver uma “teoria da mente”. E o que quer dizer “teoria da mente”? Significa a capacidade para compreender o que as pessoas estão pensando ou sentindo, e a partir daí, prever o comportamento que elas terão em consequência disso. É por volta dos três e quatro anos de idade que nós começamos a entender que as outras pessoas são motivadas por objetivos, intenções, preferências, desejos e crenças diferentes dos nossos. A “teoria da mente” é importante não apenas para interagir e conversar com o outro, mas também para compreender que as pessoas podem ter boas ou más intenções. Para as pessoas autistas, por causa da ausência de algumas habilidades sociais, a interação pode ser assustadora. Não conseguir entender o que está se passando na cabeça dos outros e interagir é muito estressante. Por isso, geralmente não gostam de contato visual direto, preferem olhar objetos a rostos, não imitam, não bocejam quando os outros bocejam, enfim: não compartilham os sinais sociais que são partilhados entre os grupos. Muitas vezes, eles irão se desenvolver e se sentir à vontade com as pessoas mais próximas.

Estudos têm mostrado que a incidência do autismo está relacionada a componentes genéticos. Além disso, a maior prevalência em homens indica também uma forte base biológica. Infelizmente, o autismo ainda não tem cura. Mas existem tratamentos, que melhoram muito as condições de vida das pessoas dentro do espectro. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, melhores serão os resultados no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades sociais e de linguagem. Mesmo que seja um mundo diferente da maioria de nós, o portador do autismo também terá o seu mundo de desafios e alegrias a ser descoberto. Quer comentar ou sugerir algum tema? Escreva para mim @dra.camilamagalhaes.

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