Expectativas para a reunião do Copom vão além da nova Selic

Espera maior é quanto ao comunicado que virá junto com a decisão, por exemplo, as indicações do quanto os juros ainda poderão subir e se vão passar do nível neutro, o que vem sendo sinalizado pelo Comitê

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 02/08/2021 16h23
Marcello Casal Jr / Agência Brasil Prédio do Banco Central, alto e cheio de espelhos Na prática, o que se percebe, nas sucessivas elevações das projeções do IPCA, é uma certa desconfiança quanto à capacidade de o Banco Central controlar a inflação

A semana começa na expectativa da reunião do Copom, que define nesta quarta-feira, 4, a nova taxa básica de juros. Diante da piora do comportamento e das projeções de inflação, a aposta dominante é de elevação de um ponto na Selic, que iria a 5,25% ao ano. Só que o mercado também conta com um comunicado mais austero, que demonstre maior preocupação do Comitê com relação as perspectivas de comportamento da inflação. Na prática, o que se percebe, nas sucessivas elevações das projeções do IPCA, é uma certa desconfiança quanto à capacidade de o Banco Central controlar a inflação e fazer com que retorne para um patamar compatível com a meta em 2022. Isso mesmo: as projeções em alta já contaminam as expectativas para o próximo ano. O último relatório Focus apontou uma previsão média do mercado de 6,79% para o IPCA deste ano, superando muito o teto da meta, que é 5,25%, e a previsão de 3,81% para 2022, o que aos poucos vai deixando para trás também o ponto central da meta que será de 3,5%.

É certo que a elevação dos juros não tem impacto sobre todos os preços que estão subindo. Não dá pra fazer nada contra os reajustes da tarifa de energia, decorrentes da crise hídrica e do uso das termelétricas. Também não dá pra minimizar altas de preços no exterior, como o petróleo, minério de ferro e alimentos, ou mesmo a recomposição de margens do setor de serviços, que vai retomando a atividade, com a flexibilização maior das medidas restritivas. Mas o Banco Central, ao encarecer o crédito, pode restringir o espaço para repasses de custos em muitos setores, além de garantir maior atratividade para o capital externo, o que pode ajudar a conter o dólar, que também tem papel relevante na evolução da inflação. Por mais que haja justificativas para a inflação e o avanço tenha sido provocado por choques temporários, que independem de consumo, é através da calibragem da demanda que se pode obter maior impacto da alta dos juros. A persistência da inflação elevada aumenta os riscos de repasses, impulsionados até pela indexação ainda muito presente na nossa economia. E a própria perspectiva de expansão de atividade neste segundo semestre, com aumentos de custos ainda presentes, dão margem para mais pressões inflacionárias, que podem contaminar mais a evolução dos índices em 2022.

A expectativa maior em relação à reunião do Copom, nesta semana, não é exatamente quanto à elevação da Selic, que já sofreu três aumentos neste ano, saindo do piso histórico de 2%. A expectativa maior é quanto ao comunicado que virá junto com a decisão, as indicações do quanto os juros ainda poderão subir, se vão passar do nível neutro, que vem sendo sinalizado pelo Comitê, e o quanto que os integrantes do Copom compartilham as preocupações dos mercados sobre o que poderá acontecer também em 2022. Bom lembrar que, além do comportamento da inflação, ainda tem todo o cenário político e as dúvidas fiscais colocando mais lenha na fogueira das pressões do mercado, da instabilidade do dólar, de movimentos defensivos dos investidores, que podem exigir ainda maior austeridade na política de juros. Nesse pacote de fatores que podem influenciar as decisões de juros, ainda tem o “acréscimo” do risco de, em algum momento, não muito distante, o Federal Reserve, nos Estados Unidos, discutir pra valer o tapering, ou o corte dos estímulos via redução da compra de ativos, que anteciparia a elevação dos juros da economia americana. Isso seria mais um fator de desestímulo para os investimentos em outros mercado, principalmente naqueles que têm maiores fatores de risco, como é o caso do Brasil, até pelas eleições do próximo ano. Independente do ânimo com relação à retomada mais firme do crescimento econômico, com a projeção média do PIB deste ano em 5,30%, a inflação tem se colocado como um grande desafio, fora os outros fatores citados, que são motivo de instabilidade em vários sentidos e também podem interferir nos futuros passos da política de juros.

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