Recuperação da economia anima, mas com alguma cautela

Último relatório Focus aponta a previsão média, do mercado, de um avanço de 5,29% do PIB neste ano, porém dificuldades da indústria e crise hídrica e de energia preocupam

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 26/07/2021 15h51
Pixabay Calculadora em cima de papéis, caneta e moedas Atividade econômica tem sido favorecida pelo aumento da vacinação, a queda dos dados referentes à pandemia e à maior flexibilização

A economia brasileira tem superado as projeções de crescimento. O último relatório Focus aponta a previsão média, do mercado, de um avanço de 5,29% do PIB neste ano, mantendo 2,10% em 2022. A atividade econômica tem sido favorecida pelo aumento da vacinação, a queda dos dados referentes à pandemia e à maior flexibilização das atividades em vários Estados. Além disso, tem o reforço de programas do governo, como o auxílio emergencial, e um certo dinamismo na abertura de pequenas empresas, até como alternativa para o mercado de trabalho, que ainda está com números elevados de desemprego.

Porém, alguns analistas alertam para a necessidade de uma certa cautela na avaliação das condições da retomada do crescimento. A indústria, que tem segmentos com reação muito forte, como o de máquinas e equipamentos, rodando em patamar bem acima do pré-pandemia, indicando até uma expansão de investimentos, vem enfrentando dificuldades com a escassez e a elevação de preços de insumos. Situação que pode até comprometer o balanço do segundo trimestre. Vários setores, não apenas na área industrial, vêm reivindicando, inclusive, maiores facilidades para a importação desses insumos, como o aço. O boletim macro da FGV Ibre coloca a possibilidade, inclusive, de retração de 1,8% da indústria no segundo sobre o primeiro trimestre, em função dessas dificuldades. São setores que têm que colocar algum freio na atividade ou elevar preços, para bancar custos maiores.

Outro fator que lança dúvida sobre o ritmo de retomada da economia é a crise hídrica e de energia. A hídrica pode afetar lavouras, comprometendo o desempenho da agropecuária, que foi o carro chefe da reação pós pandemia. Energia mais cara atrapalha e encarece a atividade dos vários setores. Já tem reforçado muito a inflação de varejo e foi um dos motivos de o IPCA de 15 de julho ter batido em 0,72%, superando as projeções e elevando a previsão do ano para 6,56%, também conforme o relatório Focus. Inflação mais elevada que gera a expectativa de que a Selic, a taxa básica de juros da economia, chegue a 7% ainda em 2021

Amarrando esses dados, temos um impulso importante na retomada, que demonstra uma forte capacidade de reação da economia, podendo ser prejudicada por inflação, juros mais altos, crise hídrica e de energia, sem esquecer do desemprego ainda elevado, que sempre segura a expansão da atividade. Além disso, há o cenário político conturbado, que pode prejudicar decisões de investimentos e até a atração de capital externo, que é importante não só do lado dos investimentos, mas também na contenção do dólar, mais um dos fatores de pressão inflacionária. Se o dólar cede, pode ajudar bastante a derrubar a inflação.

Importante lembrar que a inflação é um problema global e outros países também vem agindo para conter aumentos de commodities, como do ferro. Se houver um movimento mais benigno de preços no exterior, isso pode ajudar a minimizar as pressões internamente. Tivemos até uma alta da oferta de petróleo definida pela Opep, que reúne os países produtores, o que também facilita alguma queda dos preços, com possíveis reflexos sobre os combustíveis. Se a inflação de atacado, relacionada às commodities, ceder também no exterior, minimiza um outro risco que podemos encarar, no âmbito doméstico, que é uma possível mudança na política de juros do Banco Central americano, o Federal Reserve, com cortes de estímulos e talvez até a antecipação da elevação dos juros. Cenário que prejudicaria mais o Brasil do ponto de vista da atratividade, além de todas as condições internas que já nos desfavorecem nesse sentido. Portanto, temos sim um cenário otimista de recuperação, mas que ainda não dá espaço para empolgação. Devemos ter pé no chão e fazer avaliações realistas diante de muitos desafios que ainda temos pela frente.

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