Sócia da Drummond Advisors conta como superou dificuldades da adolescência até chegar ao comando da consultoria internacional
Joice Izabel trabalhou em fábrica de extintores de incêndio, se formou em contabilidade aos 28 anos e virou contadora sênior de empresa que presta serviços financeiros e jurídicos
Nossa Mulher Positiva é Joice Izabel, contadora e sócia da Drummond Advisors, consultoria internacional que presta serviços contábeis, financeiros e jurídicos. Joice nos conta como iniciou sua carreira, quais os desafios enfrentados e destaca que os momentos difíceis devem servir para fortalecer o foco no objetivo maior, seja ele qual for. “Quando terminei o Ensino Médio decidi mudar para São Paulo, sempre tive muita vontade de sair da minha cidade e morar em um lugar em que eu pudesse estudar, trabalhar e crescer profissionalmente. Comecei trabalhando em uma empresa de extintores de incêndio, na fábrica onde eu fiquei por quase quatro anos. Depois tive a oportunidade de ir para área administrativa, onde fiquei mais seis anos até terminar minha faculdade. Devido às minhas condições financeiras, consegui me formar ‘tarde’, pois já estava com 28 anos. Cursei contabilidade, e no final do curso buscava uma oportunidade para iniciar na área”, diz. “O momento mais difícil da minha carreira foi conseguir entrar na área contábil. O mercado, há 10 anos, era muito fechado para profissionais que estavam iniciando, e os estágios tinham uma limitação de idade, o que dificultava mais ainda o processo. Mas da dificuldade encontrei uma oportunidade, comecei a empreender assessorando pequenos clientes que foi onde eu aprendi todas as áreas contábil, fiscal, e de folha de pagamento, o que me deu uma bagagem e experiência para ingressar no corporativo”, explica.
1. Como começou a sua carreira? Sempre fui uma sonhadora e sabia que para realizar os meus sonhos, que eram bem distantes da minha realidade, precisaria começar a agir cedo. Comecei a trabalhar muito cedo, com 14 anos. Sou natural do Paraná, nascida em Foz do Iguaçu, cresci e morei até os 17 anos em Nova Esperança do Sudoeste, uma cidade do interior com menos de cinco mil habitantes. Minha família é de origem humilde e a regra era fazer 18 anos, casar e ter filhos. Fui a primeira mulher na família a “quebrar” essa regra. Minha mãe sempre foi muito sábia, mesmo não terminando o Ensino Médio, sempre me apoiou e incentivou os meus sonhos e as minhas decisões. Quando terminei o ensino médio decidi mudar para São Paulo, sempre tive muita vontade de sair da minha cidade e morar em um lugar em que eu pudesse estudar, trabalhar e crescer profissionalmente. Comecei trabalhando em uma empresa de extintores de incêndio, na fábrica onde eu fiquei por quase quatro anos. Depois tive a oportunidade de ir para área administrativa, onde fiquei mais seis anos até terminar minha faculdade. Devido às minhas condições financeiras, consegui me formar “tarde” pois já estava com 28 anos. Cursei contabilidade, e no final do curso buscava uma oportunidade para iniciar na área.
Não poderia aceitar um estágio, pois com a remuneração do estágio eu não conseguiria me manter em São Paulo, para uma vaga como analista ou assistente precisaria de experiência. Mas como ter experiência se as empresas não ofereciam oportunidades? Foi nesse momento que eu comecei a empreender. Visitei os estabelecimentos no meu bairro, pequenas lojas, restaurantes, bares e ofereci meus serviços, sem remuneração. Eu iria fazer a contabilidade da empresa deles de graça, pois para mim era um investimento: eu iria aprender a fazer na prática. E assim vieram os meus primeiros clientes. Foram oito meses de “aprendizado “e prestação de serviços, até eu estar apta para poder voltar ao mercado de trabalho e procurar uma nova oportunidade. Consegui um emprego como Analista financeiro, quase dois anos depois fui para minha tão sonhada vaga na área de contabilidade. Foi então, quando eu estava já como contadora em uma empresa, que fui apresentada a Drummond por uma diretora que trabalhava comigo. Na época ela estava saindo da empresa em que eu trabalhava e indo para a Drummond para ser a sócia responsável pela operação no Brasil.
A Drummond estava expandindo as operações para o Brasil e precisava de uma pessoa que pudesse fazer o operacional dos seus clientes. Foi aí que eu iniciei na Drummond como um trabalho “extra”. Após quatro meses, o volume de empresas aumentou e eu não estava mais conseguindo conciliar meu trabalho com as entregas da Drummond, foi quando eu conversei com os sócios e falei que eu preferia treinar alguém do time interno, para fazer o trabalho, do que entregar um trabalho que não estivesse com a máxima qualidade. Nesse momento fui convidada a integrar a Drummond como Contadora Sênior por tempo integral. Foi um momento de muitas mudanças na minha vida, e eu aceitei o desafio. Dois meses depois, a sócia responsável foi morar nos EUA e a operação do Brasil ficou com esse “cargo” em aberto. Mas não passava pela minha cabeça que eu poderia ser cogitada para assumir esse posto. Foi quando os sócios acreditaram em mim, colocando um plano de treinamento por 3 anos para que eu pudesse assumir a operação.
Nesse processo, foram muitos os desafios: aprender o inglês, a parte da tributação americana. Foi um investimento de tempo pelos sócios e um comprometimento desmedido pela minha parte. Conseguimos atingir juntos, em 3 anos, o que geralmente é um processo de 12 anos. A Drummond foi a empresa que acreditou no meu potencial e me deu oportunidade de chegar aonde estou. Hoje, sou mestre pela Suffolk University de Boston, lidero uma unidade de negócios da Drummond como sócia responsável com um time de 45 pessoas e atendendo mais de 300 clientes em transações internacionais entre Brasil e EUA.
2. Como é formatado o modelo de negócios da Drummond? Fundada em Boston (EUA) em 2010, a Drummond reúne em uma só empresa serviços tributários, jurídicos, contábeis e migratórios. Isso só é possível porque contamos com uma equipe multidisciplinar, certificada para atuar com licenças no Brasil e Estados Unidos. A diversidade e qualificação desses profissionais possibilita à Drummond ter uma visão ampla e completa dos desafios envolvidos em transações internacionais, incluindo a conversão de normas contábeis (USGAAP vs. IFRS vs. BRGAAP), planejamento tributário, contratos internacionais, obtenção de vistos específicos para investidores, registro de marca, e muito mais. Nossa equipe está localizada em Boston, Miami, Nova York, Orlando, Belo Horizonte e São Paulo, permitindo um atendimento in loco para seus clientes e parceiros.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? O momento mais difícil da minha carreira foi conseguir entrar na área contábil. O mercado, há 10 anos, era muito fechado para profissionais que estavam iniciando, e os estágios tinham uma limitação de idade, o que dificultava mais ainda o processo. Mas da dificuldade encontrei uma oportunidade, comecei a empreender assessorando pequenos clientes que foi onde eu aprendi todas as áreas contábil, fiscal, e de folha de pagamento, o que me deu uma bagagem e experiência para ingressar no corporativo.
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Equilibrar os vários papéis que não só eu tenho, mas milhares de mulheres que estão no mercado de trabalho precisam fazer é um enorme desafio diário. Sou mãe do Theo de 2 anos e cinco meses e ele é a minha prioridade. Como trabalhamos remoto na Drummond, isso me dá a habilidade de planejar meus compromissos, ligações com clientes e com o time. Quando tenho algum evento presencial, a logística e o tempo que irei ficar também tento acomodar da melhor maneira possível. Acho fundamental estar presente 100% no papel que eu estou executando. Quando estou no trabalho, tento ser mais produtiva possível, estando 100% focada, assim não vou ficar com aquela sensação de que tenho que trabalhar mais horas para poder atender todas as demandas. E trabalhar com prioridades! Não dá para resolver todos os problemas em um dia apenas, então eu os “fatio” pelo mais prioritário e assim acabo o dia com as demandas mais urgentes resolvidas. Essa premissa também levo para a minha vida pessoal, quando estou com minha família estou 100% com eles.
5. Qual seu maior sonho? Meu maior sonho é através do meu trabalho poder capacitar e inspirar as mulheres da área contábil de que com foco, dedicação, conhecimento e aperfeiçoamento, todas podem alcançar seus sonhos e objetivos profissionais. Não existe idade certa, na minha opinião existe o momento certo, se estivermos preparadas será o nosso momento.
6. Qual sua maior conquista? Olhando para trás e analisando minha trajetória tive várias conquistas. Fui a primeira mulher da minha família a concluir a faculdade e a primeira a ter um Mestrado no exterior. Aprendi inglês aos 33 anos, um dos requisitos básicos para assumir a posição que trabalho hoje, considero uma das maiores conquistas, pois foi desafiador, sair do país pela primeira vez para um intercâmbio, não falava uma palavra em inglês e em um ano eu estava aplicando para iniciar meu mestrado. Para mim é gratificante ver que todo o esforço e as dificuldades que passei tentando em alguns anos “sobreviver” em São Paulo valeram a pena, e quando eu tenho a oportunidade de compartilhar minhas experiências com as minhas colaboradoras eu sempre gosto de reforçar de que nós mulheres temos uma força que às vezes nem nós mesmas sabemos que existe, e que tudo que precisamos está dentro de nós. Momentos difíceis teremos muitos, mas que esses momentos sirvam para fortalecer o foco no nosso objetivo maior, seja ele qual for.
7. Livro, filme e mulher que admira. Uma mulher que admiro é a Luiza Helena Trajano. Pela trajetória, pelo seu jeito simples, Luiza com a sua força e seu empreendedorismo construiu seu império. Com seu jeito simples e um carisma incomparável, Luiza para mim é uma das mulheres mais inspiradoras do mundo corporativo. Um livro que super indico é “Lean In”, escrito por Sheryl Sandeberg, que foi COO do Facebook por 14 anos e a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Conselho de Administração. Nesse livro, Sheryl conta a sua história e de várias mulheres. Ela também descreve muito bem o quanto nós mulheres nos sabotamos, por acharmos que precisamos seguir padrões. O livro também aborda como os homens podem ajudar nesse processo de quebra de paradigma, dividindo as responsabilidades, ou melhor, assumindo também as responsabilidades, para que as mulheres possam crescer e desenvolver seu potencial no mercado de trabalho. “Você é mais forte que imagina, mais competente do que pensa. Acredite sempre em você e faça acontecer”.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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