Defender ideias de esquerda não leva ninguém a ser associado a um político específico

  • Por Jovem Pan
  • 23/07/2018 08h17 - Atualizado em 23/07/2018 08h17
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Jair Bolsonaro Bolsonaro ergue bandeiras conservadoras - como o combate à legalização das drogas e do aborto, a crítica ao Estatuto do Desarmamento, a luta pela redução da maioridade penal e por penas mais duras para criminosos adultos

Defender ideias conservadoras tem levado qualquer brasileiro a ser integralmente associado ao presidenciável (ou, como é comum, à caricatura de) Jair Bolsonaro, que só aderiu recentemente ao liberalismo econômico e com várias restrições, inclusive às privatizações de setores alegadamente estratégicos; e cujo comportamento nem sempre é representativo de um temperamento conservador, segundo a própria tradição conservadora brasileira do século XIX – sem falar nos moldes descritos pelo filósofo inglês Roger Scruton.

O desconhecimento do conservadorismo, a inveja que se tem dos intelectuais conservadores que vencem debates pela argumentação racional, lógica e factual (sem histeria) e o ranço pessoal anti-Bolsonaro levam os membros da patrulha esquerdista e de Centro (presentes em bares, redes sociais e meios de comunicação) a tratar Bolsonaro como criador e detentor do monopólio da pauta conservadora, o que, em vez de desgastá-lo, só o fortalece.

Bolsonaro ergue bandeiras conservadoras – como o combate à legalização das drogas e do aborto, a crítica ao Estatuto do Desarmamento, a luta pela redução da maioridade penal e por penas mais duras para criminosos adultos, além da proteção das crianças contra a doutrinação ideológica e sexual -, o que é perfeitamente legítimo para um político à direita e, no caso dele, capaz de fazer discursos firmes; mas o deputado nunca foi um intelectual – muito menos se vendeu como tal – que tivesse apresentado em sua obra estudos, análises e debates sobre cada um desses temas, em toda a sua complexidade, como fazem intelectuais conservadores nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Brasil, muito antes de seu protagonismo político, e como decerto seguirão fazendo depois.

Associar qualquer defensor de ideia conservadora a Bolsonaro, portanto, é com frequência elevar o deputado a um patamar de liderança intelectual que ele jamais teve, diluindo os argumentos rudimentares e destemperos verbais em que eventualmente incorre em um caldo cultural mais denso do que nele se vê.

Sem contar que, entre defensores de uma ou mais ideias conservadoras, há, entre outros tipos, aqueles:

– que votarão em Bolsonaro por julgarem que ele é o menos pior representante de suas ideias e/ou o que tem mais chance de vitória contra a esquerda;

– que votarão em João Amoêdo por darem um peso maior ao liberalismo econômico supostamente sem restrições e/ou por rejeitarem o temperamento de Bolsonaro;

– que votarão em Geraldo Alckmin por julgarem que, mesmo tendo tantas ou mais restrições ao liberalismo econômico, e estando aliado ao Centrão do ex-presidiário do mensalão Valdemar Costa Neto e do defensor do imposto sindical Paulinho da Força, deixou São Paulo mais seguro que outros estados, diz defender as reformas, tem mais apoio para aprová-las, é menos explosivo e está à frente de Amoêdo;

– que votarão em Marina Silva ou Álvaro Dias por considerarem cada um honesto, rejeitarem Bolsonaro, desprezarem o PSDB e não verem chances em Amoêdo;

– e que votarão em Ciro Gomes ou qualquer outro candidato mais à esquerda por não saberem que eles defendem o oposto de suas ideias e/ou por desejarem o assistencialismo do Estado, mesmo que tenham ideias conservadoras nos costumes.

Embora Bolsonaro tenha conseguido atrair até o momento mais eleitores com posições conservadoras que outros candidatos, em especial pelo discurso antipetista da moralidade, nenhum dos presidenciáveis de 2018 representa integralmente as ideias e o temperamento conservadores, o que – somado ao fato de que a escolha do eleitor também se dá por outros fatores, como a empatia pessoal e a crença no que o candidato será capaz de realizar – mantém o cenário aberto para qualquer preferência individual, de acordo com as circunstâncias finais do primeiro e do segundo turnos.

O resto é tentativa histérica ou ególatra de calar o contraditório.

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