Felipe Moura Brasil: A direita também tem de reconhecer seus impostores

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 07/12/2018 09h29 - Atualizado em 07/12/2018 09h31
Valter Campanato/Agência Brasil Como todo líder popular, é natural que atraia em sua onda, além de pessoas de bem, uma porção de oportunistas, impostores e/ou psicopatas

‘House Of Cards’ é basicamente a história de um casal de psicopatas que atropela todos que se colocam à frente de seus objetivos de poder político.

Qualquer espectador normal que assiste à série não tem maiores dificuldades de reconhecer a natureza e o caráter dos dois protagonistas, porque tem acesso visual às cenas de combinações, manipulações, ameaças e crimes cometidos.

Já o eleitorado ao qual eles falam somente com suas facetas cínicas, lapidadas pelo marketing, não dispõe das mesmas informações transmitidas ao espectador, de modo que, em boa parte, acredita em ambos, pelo menos enquanto os casos obscuros e as polêmicas não se avolumam.

E essa crença frequente do eleitorado, tanto na série americana quanto na realidade brasileira, tem um motivo simples: o cidadão comum tem dificuldade de conceber que alguém que defenda as mesmas posições que ele aprendeu a defender pode ser alguém que não presta, que dirá um ou uma psicopata.

Quanto mais tempo você passa sendo enganado por impostores, maior o esforço psicológico necessário para admitir que se enganou sobre eles.

A seita petista guiada por uma suposta divindade, como apontou o ex-ministro dos governos do PT Antonio Palocci, é um exemplo disso. O número de eleitores diminuiu diante do volume de provas, prisões, condenações e cidadãos desempregados, mas ainda resta uma parcela incurável de crentes que preferem ser figurantes em narrativas ficcionais a espectadores de episódios criminosos.

Agora Jair Bolsonaro chega ao poder, tendo se tornado o maior cabo eleitoral do país. Como todo líder popular, é natural que atraia em sua onda, além de pessoas de bem, uma porção de oportunistas, impostores e/ou psicopatas, dispostos a atropelar todos que se colocam à frente de seus objetivos.

A chamada nova direita da política brasileira, pela própria necessidade de fazer volume frente ao establishment esquerdista, ganhou corpo aceitando adesões indiscriminadamente de qualquer pessoa com mandato, potencial de votos ou experiência técnica que se dissesse defensora de bandeiras em comum.

Não se devem distribuir poderes, no entanto, sem antes um esforço de depuração. Mesmo quando ainda não há crimes provados, os casos obscuros e as polêmicas dão sinais que só os crentes incuráveis não querem enxergar.

Eleitores e líderes, à esquerda ou à direita, amadurecem quando deixam o corporativismo político e ideológico de lado para identificar em seus respectivos grupos quem não presta nem nunca vai prestar para o país.

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