Felipe Moura Brasil: Carlos Bolsonaro fez ‘macumba psicológica’ na cabeça do pai, diz Bebianno

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 20/02/2019 08h56 - Atualizado em 20/02/2019 09h04
Jovem Pan Bebianno: “Minha indignação é a de ter servido como um soldado disposto a matar e morrer e no fim ser crucificado e tachado de mentiroso porque o Carlos Bolsonaro fez uma macumba psicológica na cabeça do pai"

Em entrevista exclusiva ao programa Os Pingos Nos Is, aqui da Jovem Pan, Gustavo Bebianno, exonerado do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, esclareceu ontem o conteúdo dos áudios de sua conversa com Jair Bolsonaro na semana passada, que estão disponíveis no nosso site.

Ele falou de sua relação com Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que havia chamado publicamente de “mentira absoluta” uma declaração de Bebianno sobre a conversa.

Segundo o ex-ministro, Carlos tem fama de destruidor de reputações.

“No Rio de Janeiro ele é conhecido como destruidor de reputações.”

“As pessoas têm medo de se confrontar. Diversas vezes ele me agrediu, ele usa muito o perfil de outras pessoas para fazer.”

“Na minha opinião, o presidente tinha que dar um basta nisso. Se o Carlos fosse meu filho, eu estaria preocupado, porque ele gera muitos inimigos. Ele não mede as consequências dos seus atos. As pessoas têm filhos, esposa, mãe, pai. Como você vai a público e chama uma pessoa de absolutamente mentirosa?”

Bebianno contou a história de um colaborador da campanha que foi chamado por Carlos de “vagabundo”.

“O filho dessa pessoa ficou muito sentido. Houve um desequilíbrio na família. Esse garoto tentou o suicídio. Pegou uma faca e se mutilou, passou a faca na garganta. Ficou um mês no hospital.”

O ex-ministro questionou a família Bolsonaro por levar em consideração uma apuração da Folha de que Bebianno tentou ligar para o presidente para explicar o caso das supostas candidatas laranjas do PSL, mas não foi atendido.

“Que assunto mais bobo, mais sem importância. A Folha vive produzindo matérias contra família Bolsonaro. Como a família recebe? Como fake news. Em nenhum momento se entra no mérito. Simplesmente são tidas como fake news e vão para o arquivo morto. No meu caso, a Folha insinuou que eu teria alguma responsabilidade em relação a esse problema de Pernambuco e eu sou julgado sumariamente?”

Bebianno se mostrou indignado com a fritura pública que antecedeu sua exoneração e a forma como foi demitido na segunda-feira.

“Minha indignação é a de ter servido como um soldado disposto a matar e morrer e no fim ser crucificado e tachado de mentiroso porque o Carlos Bolsonaro fez uma macumba psicológica na cabeça do pai.”

Bebianno atribuiu ao filho vereador do presidente a sua demissão.

“Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro. Simples assim.”

“Na verdade, não era para ter assumido. Nunca pedi nada ao presidente. Desde o primeiro dia que comecei a ajudá-lo, eu disse que não queria nada, que estava fazendo um trabalho para o meu país. Paguei muitas despesas do meu bolso, um apoiador disposto a investir para que a coisa funcionasse. Eu parei minha vida.”

“As pessoas que me atacam hoje de forma virulenta, muita agressiva, nenhuma estava lá. Nenhuma dessas pessoas ajudou a conquistar o veículo para a eleição, que foi o PSL. Nenhuma dessas pessoas ajudou a resolver os problemas judiciais que o presidente tinha, principalmente no Supremo Tribunal Federal.”

Ainda falando do método usado por Carlos Bolsonaro para atacar reputações, Bebianno disse que “o governo não vai governar com base no ódio”.

“O amor é muito mais forte, mais florido, mas construtivo. O Brasil é um país diversificado, diferentes religiões, raças, culturas. Temos que ter tolerância uns com os outros. Não é possível que, simplesmente porque alguém tem um pensamento um pouco diferente do seu, essa pessoa vai ser alvo de agressões.”

Bebianno disse que foi rotulado de petista.

“Minha posição é à direita, centro-direita. Nunca fui petista na minha vida. Tentaram me rotular de petista. Fiz de tudo pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas a gente tem que tirar o chapéu para eles, porque eu não vejo o PT agredindo o PSOL, o PSOL agredindo PCdoB… Mas eu vejo isso acontecer do lado de cá.”

O ex-ministro também disse que Jair Bolsonaro continua sendo seu presidente, mas que, como qualquer pessoa, o presidente é falível, referindo-se à influência de Carlos.

“Jair Bolsonaro continua sendo o meu presidente, o presidente de todos nós. Tem o meu respeito, o meu afeto. Tem o meu amor, por que não dizer? Mas como ser humano normal, não é perfeito. As pessoas cometem deslizes aqui e ali, como todos nós. O presidente Jair Bolsonaro não nasceu presidente, ele se fez presidente pelos seus próprios méritos e seu próprio valor. Eu acredito que Jair Bolsonaro seja um dos grandes, senão a maior liderança política que nasceu nos últimos tempos, sem dinheiro, sem fabricação, sem sindicato, sem partido, sem nada, pela sua hombridade, pela correção. Mas como todo ser humano, como eu, como você, ele é falível.”

Bebianno se apresentou como um conciliador, um pacificador, em evidente contraponto à postura beligerante de Carlos, que ataca a imprensa como canalha nas redes sociais.

O ex-ministro disse que, em sua opinião, o governo Bolsonaro não poderia apenas “pregar para convertidos” e que, em razão disso, sempre procurou construir boas relações entre governo e imprensa.

Foi por isso, segundo Bebianno, que ele marcou a reunião com o executivo da Globo Paulo Tonet Camargo, que desagradou a Jair Bolsonaro.

“Esse suposto inimigo já tinha sido recebido por dois generais”… “nenhum espírito de X-9”.

Bebianno ainda lembrou o tuíte de novembro de Carlos Bolsonaro sobre pessoas próximas que desejariam a morte do pai e disse que, por “raciocínio lógico”, ele só podia se referir a Hamilton Mourão.

O ex-ministro afirmou que o vice-presidente é um “homem de caráter” e que o tuíte do filho do presidente foi uma “irresponsabilidade”.

Apesar das críticas à influência de Carlos em sua demissão, Bebianno disse que o filho do presidente é uma “pessoa doce”, quando está disposto a conversar.

“Meu sentimento por ele é positivo. Inclusive a poucos dias antes da cirurgia do presidente eu chamei para uma conversa, sentamos, conversamos, nos abraçamos ao final da conversa. E o Carlos, quando está disposto, a abrir e conversar, é uma pessoa muito doce, um rapaz muito bacana e muito positivo. Mas às vezes ele entra nesses altos e baixos e não se contém. E na maioria das vezes, no meu entender, sem motivo.”

Bebianno contou que a rusga com Carlos Bolsonaro começou com sua tentativa de se candidatar a deputado federal pelo Rio de Janeiro, mas piorou mesmo na época da transição.

“Quando ele desistiu de ser candidato, o Flávio Bolsonaro deu uma entrevista e disse que, com a desistência de Carlos, eu seria o novo puxador de votos do partido. Eu até brinquei: ‘Eu? Eu não tenho relevância alguma’. Tenho a impressão que, a partir desse momento, ele mudou comigo. A partir daí começaram ataques esporádicos. Durante toda a campanha, como ele não viajava conosco, ele nunca viajou conosco, a única viagem que ele fez foi justamente a de Juiz de Fora, a da facada. Então, não havia convívio muito perto. Era tolerável. Depois, piorou muito com a ida para o CCBB. Quando nós fomos fazer a transição, o Carlos fez muita pressão para que o presidente não me indicasse. Eu soube que ele dizia: ‘Se você indicar o Bebianno, eu vou embora de Brasília.’ Eu sentia um desconforto muito grande por parte do presidente, que não queria contrariar o Carlos.”

Bebianno aproveitou para dizer que não é um “homem-bomba”.

“Eu tenho caráter. Não vou atacar nosso presidente em absolutamente nada. É um homem correto. É um patriota que quer o bem do nosso país. Esse governo vai dar certo.”

Bebianno confirmou que, na negociação para a sua saída do cargo, foi-lhe oferecida uma diretoria de Itaipu, com salário de 1 milhão e 100 mil reais por ano.

“Nessa negociação de fato me foi oferecida uma diretoria em Itaipu, um salário magnífico, 1 milhão e 100 mil reais por ano, fora benefícios e tal. Mas eu perderia minha dignidade se aceitasse.”

Também afirmou que foi cogitada a possibilidade de ser embaixador na Itália ou Portugal, o que também rechaçou.

“O mundo político é muito ciúme. E o nosso presidente desperta paixão nos outros. E quando você fica em evidência, é alvo de ciúmes e ataques, geralmente covardes e pelas coisas. Então durante muito tempo ouvi o seguinte: o Bebianno está aí para se dar bem, para fazer negócio, para ganhar dinheiro. Então quis mostrar que não estava ali nem para fazer negócio nem para ganhar dinheiro. Estava ali pelo Brasil e para trabalhar ao lado do meu presidente. Mas tendo tido esse desfecho, me sentiria humilhado se aceitasse algo assim, pareceria que estaria me vendendo.”

Bebianno repetiu não ter responsabilidade sobre a aplicação de recursos repassados por ele no ano passado, como presidente nacional do PSL, a candidatas de Pernambuco de poucos votos que teriam aplicado o dinheiro numa gráfica fantasma.

Ele comparou a situação a um repasse autorizado pelo presidente da República, mal utilizado num estado.

“Como uma pessoa em Brasília vai conhecer as gráficas pelo Brasil? Saber onde funciona, ou não, se tem a máquina?”

“Digamos que o estado do Rio de Janeiro peça ajuda financeira ao governo federal para investimento em segurança pública. O presidente assina e manda o dinheiro para o Rio de Janeiro. Esse dinheiro é distribuído lá de acordo com os critérios do governador. Um determinado coronel, comandante de um quartel, promove uma compra irregular para que ele coloque algum dinheiro no bolso. Eu pergunto: o presidente da República tem alguma responsabilidade sobre isso? Nenhuma, é a mesma coisa, não tem competência para responder sobre isso.”

O ex-ministro também isentou Luciano Bivar, então presidente do diretório de Pernambuco do PSL.

“Não acho que ele precise fazer esse tipo de coisa para botar dinheiro no bolso. Ele é um homem muito bem sucedido, empresário de sucesso.”

O programa Os Pingos Nos Is abriu a Gustavo Bebianno o microfone, que também está e sempre esteve aberto ao presidente Jair Bolsonaro. Trazer à tona informações faltantes para esclarecer episódios nebulosos sobre qualquer governo e ouvir diretamente uma fonte primária para que o público tire suas próprias conclusões são deveres do jornalismo independente.

Obrigado a todos pela enorme audiência da entrevista que repercutiu em toda a imprensa e pautou o debate público. Ela está disponível na íntegra em jp.com.br/pingadas.

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