Felipe Moura Brasil: Tragam um Oscar para Renan

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 22/01/2019 08h34
Antonio Cruz/Agência Brasil Antonio Cruz/Agência Brasil Renan publicou no Twitter: “Olha, não quero ser presidente do Senado"

As indicações para o Oscar de 2019 saem hoje e já lamento a ausência de Renan Calheiros na lista da categoria de Melhor Ator, que certamente terá o vencedor do Globo de Ouro em drama Rami Malek no papel de Freddie Mercury. Christian Bale, na pele do ex-vice-presidente americano Dick Cheney, também é fichinha perto do ex-presidente do Senado na pele de candidato à presidência do Senado.

Renan publicou ontem à tarde no Twitter: “Olha, não quero ser presidente do Senado. Os alagoanos me reelegeram para ser bom senador, não presidente. Já fui várias vezes, em momentos também difíceis. A decisão caberá à bancada, e temos outros nomes.”

É verdade que afetar desinteresse no antigo cargo posando de democrata, respeitador da concorrência e só passível de aceitar eventual candidatura por pressão voluntária e livre de seus correligionários, é mais fácil por escrito, em rede social. Mas é que Renan atua há tempo na política brasileira que podemos imaginar sua voz impostada, sua expressão solene, seu ar patriótico de defensor dos interesses do povo mais humilde, ao fingir que não quer voltar ao posto pelo qual vem se mobilizando nos bastidores, contando com a votação secreta que omitiria desse mesmo povo os nomes dos parlamentares a elegê-lo.

A vida real, porém, trouxe ontem à noite mais um aparente obstáculo a este grande ator brasileiro, além da confirmação da candidatura da também emedebista Simone Tebet. A Procuradoria-Geral da República afirmou que a Odebrecht pagou R$ 1 milhão para Renan Calheiros em 2012 por intermédio de um motorista de Milton Lyra, empresário considerado o operador do senador em esquemas de corrupção.

De acordo com procuradores, o valor foi entregue em espécie no dia 31 de maio daquele ano, como pagamento pela contribuição de Renan à aprovação no Senado de um projeto de interesse da Brasken, para pôr fim a incentivos fiscais a produtos importados.

“Resta evidente que o valor repassado a Renan Calheiros foi entregue em São Paulo a Fabio Brito Matos, motorista de Milton Lyra”, diz o documento revelado pelo site O Antagonista.

Os executivos da Odebrecht ainda mostraram em delação que a entrega para “Justiça” (codinome de Renan) só seria efetivada mediante a senha “justo”. Não é piada. É o teatro da propina. O dinheiro foi disponibilizado por meio de doleiros que mantinham contratos fictícios com a empreiteira, segundo os delatores.

Mas Renan, que já foi alvo de 18 inquéritos no STF, tendo se livrado de quatro deles, também é um personagem e tanto. Ele é capaz de fazer das próprias acusações contra si um trunfo velado para sua eleição, já que senadores investigados contam com sua suprema experiência em blindagem contra o avanço de investigações.

Ou seja: o filme ainda não acabou. Mas a ausência no Oscar é injusta.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.