Felipe Moura Brasil: Velhos analistas tentam fazer atos de Bolsonaro parecerem piores do que são

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 04/09/2018 07h37 - Atualizado em 04/09/2018 15h55
Reprodução/TV Globo Bolsonaro, mesmo precisando expandir seu eleitorado para vencer nas urnas, vai esticando as cordas da espontaneidade e da provocação, até o limite da estupidez

Eu sou contra auxílio-moradia para parlamentares que tenham ou não apartamentos próprios em Brasília. Mas não chamo isso de crime, como fazem analistas na imprensa, porque não é. Tanto que Jair Bolsonaro não foi investigado, nem punido.

Eu sou contra parlamentares poderem ter até 25 secretários em Brasília ou no estado de origem, pelo valor total de até 90 mil reais, especialmente se não comprovam serviços relevantes. Mas não chamo isso de crime, como fazem analistas na imprensa, porque não é. Tanto que Bolsonaro não foi investigado, nem punido pelo caso da secretária Walderice, apesar de uma ala do Ministério Público Federal ter vazado à imprensa que “estudava” investigá-lo, como se coubesse ao MPF divulgar o que estuda fazer.

Eu julgo inapropriada a declaração de que “quilombolas não servem nem para procriar” e pesam não sei quantas arrobas. Mas não chamo opinião politicamente incorreta sobre sedentarismo de crime de racismo, como fazem analistas na imprensa e a PGR, porque não é. Tanto que Marco Aurélio Mello e Luiz Fux votaram pela rejeição da denúncia, e Alexandre de Moraes, que pediu vista do processo, já defendeu em livro a liberdade de manifestação política e a imunidade parlamentar para além do recinto do Congresso.

Se desempatar o placar contra Bolsonaro, Moraes entrará em contradição com sua própria obra, acompanhando o voto hipócrita de Luís Roberto Barroso, que chamou Joaquim Barbosa de “negro de primeira linha”, e o endosso lacônico de Rosa Weber, sua fiel seguidora.

Eu considero destrambelhado, mesmo em emissora que já recebeu bilhões de reais de governos federais, especular sobre a diferença salarial entre entrevistadores, sem atinar que eles exercem funções hierarquicamente diferentes. Mas não fico escandalizado com isso, como ficam analistas na imprensa, porque escândalos são mensalão e petrolão.

Eu considero uma irresponsabilidade que, mesmo em tom de troça, um candidato segure um tripé de câmera como quem segura um fuzil e diga “vamos fuzilar a petralhada”, dando ainda margem para ação do PT no STF que o deixa à mercê de Ricardo Lewandowski, ministro escolhido pela petralhada. Mas não vou gritar que troça irresponsável é apologia séria ao fuzilamento, como fazem analistas na imprensa, porque não é.

Analisar a passagem de Bolsonaro pelo cenário político é um exercício intelectual interessante, porque, de um lado, velhos analistas e adversários tentam fazer seus atos, por mais repudiáveis que sejam, parecerem sempre piores do que são. Do outro, Bolsonaro, mesmo precisando expandir seu eleitorado para vencer nas urnas, vai esticando as cordas da espontaneidade e da provocação, até o limite da estupidez.

Nenhum dos dois lados lapida seus exageros. Ninguém foge à própria natureza.

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