Após excesso de otimismo, taxa de câmbio volta a patamar alto

Disseminação da mutação Delta do coronavírus, aumento das preocupações com a economia global e problemas internos do Brasil, como fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, influenciam nos preços dos ativos

  • Por Fernanda Consorte
  • 20/07/2021 10h00
BRUNO ROCHA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Dólar cai ante o real após BC anunciar nova alta dos juros e elevar a Selic para 4,25% ao ano Índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a seis moedas fortes, acumulou alta de 0,63% na semana passada, seu maior ganho semanal em um mês

E não é que voltamos para um patamar alto da taxa de câmbio de novo? Aqui tenho a deixa de levantar a plaquinha de “eu avisei!”. Mas excluindo a sapateada, aqueles 4,9% estavam com toda a cara de excesso de otimismo, considerando toda a conjuntura brasileira e mundial. O câmbio sofreu correção na semana passada, de um lado por temores da inflação mais alta nos Estados Unidos, que já alcança impensáveis 5,4%, e por outro pela rápida disseminação da variante Delta do coronavírus – situação que parece que não acaba nunca. O índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a seis moedas fortes, acumulou alta de 0,63% na semana passada, seu maior ganho semanal em um mês.

Nesta semana, a coisa não começou diferente, ainda com foco na disseminação da mutação Delta do coronavírus e consequente aumento das preocupações com a economia global, que vinha retomando o ritmo nos últimos meses. Como as autoridades de saúde têm feito vários alertas sobre a rapidez do contágio da variante, o mercado teme que o processo de recuperação seja abortado por resgate das medidas de isolamento social. Mesmo com o avanço da vacinação! Um exemplo disso foi a decisão da China. Enquanto o Fed debate quando iniciar a retirada dos estímulos à economia americana, o Banco do Povo da China (PBoC) deu um passo atrás na normalização monetária e reduziu o compulsório dos bancos, que é o montante mínimo que eles devem depositar no Banco Central. Assim, se a taxa é cortada, as instituições bancárias ficam com mais dinheiro livre para emprestar. Os analistas entendem que corte do compulsório pode proteger a economia chinesa dos riscos representados pela variante Delta do coronavírus. Afinal, gato escaldado tem medo até de água fria…

E não é só isso. Temos nossas mazelas internas também que, tal qual a pandemia, cismam em ficar agarradas em nossa conjuntura. Mesmo com o Congresso em recesso, persiste o desconforto com fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 e com a reforma do Imposto de Renda que, mesmo após alterações, ainda não se sabe qual será o resultado final. E por mais que o presidente Jair Bolsonaro diga que deve vetar o aumento da verba para o fundo eleitoral – chamando inclusive o deputado Marcelo Ramos de insignificante – essa possibilidade também levanta preocupações quanto ao andamento das reformas no parlamento. As maravilhas das armadilhas que o Brasil nos prepara. Enfim, ainda temos muito trabalho para termos motivos consistentes de otimismo e melhora nos preços dos ativos. Porém, a esperança existe e já acontece por meio da vacinação, que anda a passos mais rápidos agora. E ano que vem, nas eleições, também podemos fazer a nossa parte.

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