Com inflação a 9% e aumento do novo Bolsa Família, mercado olha para o Brasil com desconfiança

Novo programa de transferência de renda deve pagar pelo menos 50% a mais e poderá prejudicar ainda mais as contas fiscais

  • Por Fernanda Consorte
  • 10/08/2021 14h19
Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo Mulher olha para parede de açouge em que cartazes com os preços das carnes estão fixados Aumento das previsões da inflação deste ano contaminam expectativas para 2023

O humor mudou radicalmente no Brasil na última semana, pois tivemos renovações de incertezas em relação ao quadro fiscal brasileiro. Um exemplo do quanto essa situação piorou foi o movimento da taxa de câmbio na semana passada: o Banco Central aumentou a taxa de juros em 1% a.a. e endureceu seu discurso no comunicado pós-reunião e também na ata publicada na manhã desta terça-feira (num tom mais hawkish), causando uma elevação de toda a curva de juros, especialmente nos prazos mais longos. Mesmo assim, a taxa de câmbio depreciou 2% na semana passada. Em poucas palavras, nem a possibilidade de um rendimento maior foi capaz de aumentar o fluxo financeiro para o Brasil. 

E olhem que as condições sanitárias continuam melhorando gradativamente no Brasil. Há estatísticas que mostram que a ocupação de UTI caiu para o menor nível desde janeiro e o ritmo médio de vacinação se mantém acima de 1 milhão por dia, reafirmando as perspectivas positivas para a reabertura da economia. Mas, como mencionei, o que está deixando o mercado em estado de alerta são as contas fiscais. Segundo o Banco Central do Brasil, o setor público registrou elevado déficit primário em junho (R$ 65,5 bilhões) devido, justamente, a maiores despesas. E os gastos extrateto somaram R$ 19,4 bilhões em julho. 

Assim, qualquer notícia sobre pagamentos acima do previsto acaba sendo refletido negativamente em risco país, como foi com os precatórios e o aumento do Bolsa Família. Ontem, o ministro Paulo Guedes, junto com o presidente Bolsonaro, entregou a PEC dos Precatórios e a MP do Auxílio Brasil à Câmara dos Deputados. De acordo com a proposta, o novo programa deve pagar, pelo menos, 50% acima do valor médio pago pelo Bolsa Família, que atualmente é de R$ 189. Ou seja, na visão do mercado, o valor é alto e poderá prejudicar ainda mais as contas fiscais. Por isso, essa pressão adicional na taxa de câmbio. Agora, todos os olhos devem ficar para essa “análise” por parte do Congresso. Por outro lado, a Câmara aprovou a urgência para votar o projeto de lei que altera o Imposto de Renda, além do projeto de privatização dos Correios. Contudo, o quadro político/fiscal ainda gera mais preocupação que clareza, e tem sido o principal ingrediente para a volatilidade dos preços. 

Além disso, tivemos o resultado o IPCA de julho (vale mencionar que todos os indicadores mais importantes da semana forma divulgados hoje, então poderíamos já desejar “bom final de semana” e “surfar” na volatilidade, que seguirá intensa). Tivemos mais uma leitura desfavorável (afinal, convivemos com a singela marca de 9% de inflação nos últimos 12 meses!!!), mostrando deterioração tanto do nível quanto da composição, com destaque negativo para a inflação de serviços. Por fim, com uma característica de retrovisor, o último conjunto de dados de atividade para junho será divulgado na sexta-feira, o IBC-Br de junho. Mas, depois da ata do Copom e desse IPCA inflado, acho pouco provável que ele faça algum preço. Melhor focar no desenrolar político/ fiscal… Ou não.

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