Para o alto e avante: novo aumento dos juros é quase garantido

Apesar do baixo desempenho do PIB no 3º trimestre, as forças para aumento da inflação estão bastante presentes e devem ofuscar o peso da atividade econômica mais fraca

  • Por Fernanda Consorte
  • 07/12/2021 12h00 - Atualizado em 07/12/2021 12h17
Fátima Meira/Estadão Conteúdo Fátima Meira/Estadão Conteúdo Quanto mais alta a inflação do curto prazo, maior a contaminação das expectativas, e freá-las é o trabalho do Banco Central

Todas as atenções estão voltadas para a decisão de juros que será tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na próxima quarta-feira. O comitê se baseará nos dados divulgados entre reuniões e, em minha visão, a decisão é meio dada de que continuaremos com forte aumento de taxa de juros. Não tem muito como fugir. Afinal, o BCB tem uma meta clara de inflação e a taxa básica de juros é um dos principais instrumentos para alcançá-la. Olhando o cenário de inflação, não temos notícias muito animadoras. A inflação está forte em dois dígitos; por exemplo, a alta do IPCA-15 de novembro – prévia de inflação do mês – alcançou 1,17%, a taxa mais elevada para o mês desde 2002. Além disso, vemos pressão em vários itens do indicador, mostrando uma inflação disseminada.

O mesmo deve ser visto na próxima sexta-feira, quando teremos a divulgação do IPCA fechado de novembro, que deve alcançar quase 11% em 12 meses e continuar assim no futuro próximo – lembrando que quanto mais alta a inflação do curto prazo, maior a contaminação das expectativas de inflação de curto, médio e longo prazo. E é aqui que entra o trabalho do Banco Central: ele precisa frear essas expectativas. Assim como o mercado, acredito em uma nova alta de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) para 9,25% a.a.. Em meio a discussões de mercado (agora menos acaloradas) sobre a necessidade de se acelerar e intensificar o aperto das condições monetárias, acreditamos que o Copom manterá o ritmo atual, sinalizando continuidade do ajuste em 2022 e trazendo a taxa Selic para 12% a.a..

O que joga contra esta estimativa é a atividade econômica, que tem mostrado sinais claros de enfraquecimento ou perda de ritmo, como vimos pelos dados do PIB do 3º trimestre deste ano (3T21) divulgado na semana passada. Este item também deve ser analisado pelo Banco Central. Porém, as forças para aumento de inflação (câmbio depreciado, inércia inflacionária e política fiscal expansionista) estão bastante presentes – quase gritando, na verdade – e devem ofuscar o peso da atividade econômica mais fraca. Assim, acredito que a sinalização de que a política monetária avançará “ainda mais no território contracionista” deve ser mantida e reforçada pelo comitê. Vamos esperar.

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