Após ‘fique em casa’, Estados e cidades organizam Carnaval 2022, mas Brasil não suporta nova onda de Covid

Festa pode representar risco de expansão da doença, apesar da ampla vacinação; país não tem recursos para custear medidas econômicas compensatórias caso ocorra mais um surto

  • Por Jorge Serrão
  • 24/11/2021 12h30
Reprodução/Facebook/@academicosdobaixoaugusta Vista por cima da rua da Consolação durante o desfile do bloco Baixo Augusta, com milhares de pessoas na via pública Carnaval é a maior festa popular do país, caracterizada pelas aglomerações, abraços, beijos e relações sexuais

Todo mundo só é obrigado a fazer alguma coisa por força de lei. Você pode até questionar a legitimidade da legislação, mas é fundamental que, no mínimo, prevaleça a legalidade. Nosso ordenamento jurídico não tem regras obrigando alguém a tomar vacina. Também não foi implantado, legalmente, a nível nacional, um passaporte de vacinação. Mesmo assim, aberrações ilegais acontecem. Muitos eventos obrigam seus frequentadores a apresentarem o comprovante (uma, duas ou três doses). A medida é abusiva.

O bom senso recomenda que se tome vacina porque, em tese, é a maneira mais concreta e segura de imunizar a maioria das pessoas. Lamentável a interdição do debate sobre a eficácia e a segurança das vacinas que são aplicadas contra a Covid-19, mesmo sem terem passado por todas as quatro fases de testes. A “emergência” pandêmica tem justificado a aplicação. Quais os efeitos colaterais? Existem ou não? A única certeza é que são produtos que rendem lucros bilionários para seus fabricantes. Os governos compram de modo emergencial, sem licitações ou avaliar os impactos dos custos (e dos preços dos medicamentos) sobre os cofres públicos. No Brasil, todo mundo toma a vacina gratuitamente. Mas ela não é de graça… Há um custo até para aquele trabalhador que não deseja tomá-la e, pela lacração em vigor, perde o emprego se não apresenta o comprovante vacinal, mesmo que isso não seja “obrigatório por lei”. O consolo é que esse desempregado pela ditadura-agulha poderá pular o Carnaval.

Outra hipocrisia chama atenção, porque as vacinas não asseguram 100% de imunização das pessoas. Muita gente pegou Covid-19 mesmo tomando todas as doses recomendadas. Se a vacina não assegura imunização total (embora tenha o efeito esperado de reduzir o impacto da doença em cada indivíduo), não tem a menor lógica exigir “passaporte da vacina”. Na Europa e Estados Unidos, muitas pessoas não aderiram à vacinação — que no Brasil é um sucesso. Lá fora, teme-se a quarta onda da pandemia. Aqui, vamos para a nem tão sensata fase do “liberou geral”? Paradoxo ou hipocrisia? Governadores e prefeitos que defenderam medidas burras (como lockdown, restrições ao direito de ir e vir, “fique em casa, a economia a gente vê depois”) agora organizam o Carnaval 2022. Trata-se da maior festa popular do país, caracterizada pelas aglomerações, extrema proximidade entre as pessoas, com abraços, beijos e relações sexuais. Ah, tem a máscara… Mas a que vale é a carnavalesca, e não aquela que supostamente protege alguém de contágio. A parada é temerária! Tanto que a turma da galhofa nas redes sociais já sugeriu ao presidente Bolsonaro: ou ele libera o Carnaval para que o STF proíba, ou ele proíbe o Carnaval para que o STF libere… Ou será que o Rei Momo é o verdadeiro detentor do “Poder Moderador”?

O Brasil não impõe restrições a quem vem do exterior, tomando ou não a vacina. Não fazemos testes obrigatórios nas fronteiras, portos e aeroportos. Qualquer um, infectado ou não, entra por aqui. No Carnaval de 2020, a onda de Covid começou trazida por estrangeiros e brasileiros que vieram da Europa, principalmente da Itália. Muitos italianos — como é hábito anual — pularam o Carnaval em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e outras capitais e cidades litorâneas do Nordeste. Quem fez a festa, de verdade, foi o Covidão. Vamos repetir a dose macabra? É a pergunta fatal para o país famoso pelo “malandro-agulha”, que agora embarca na ditadura da agulha… Let’s dance?!

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