Existe potencial para Michel Temer na sucessão a Bolsonaro?

Ex-presidente se movimenta nos bastidores para ser indicado candidato ou para emplacar algum nome de confiança do MDB; peso de R$ 1 bilhão do novo partido União Brasil pode influir na decisão

  • Por Jorge Serrão
  • 26/01/2022 14h45
BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Michel Temer foi presidente do Brasil de 2016 e 2018

A sucessão presidencial de 2022 ainda é um jogo aberto. Jair Bolsonaro tem chances concretas de reeleição. Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff conseguiram emplacar um segundo mandato. Por que seria diferente com Bolsonaro – que tem o comando da máquina federal e tenta um repeteco com apoio do Centrão? Exatamente pelo fator de desgaste gerado pela máquina e pela volatilidade da base aliada. Tudo ficará mais claro (ou obscuro) a partir de março. A abertura da janela para transferência de partidos vai definir a realidade de quem apoiará (ou trairá) o titular do Palácio do Planalto. Entre abril e junho, as convenções partidárias definem quem realmente disputará a corrida presidencial. Até lá, um espetáculo dantesco de guerra política e psicológica.

Por enquanto, vale um fato objetivo: Jair Bolsonaro é o candidato a ser batido. As dúvidas são muitas. Principalmente em relação a Luiz Inácio Lula da Silva. Não adianta a propaganda das pesquisas (com metodologias sob suspeita de manipulação) que apontam o “descondenado” como favorito. A imagem de “ladrão” e “corrupto” está colada no chefão petista. Além desse desgaste imagético, tem a dúvida sobre a saúde. Apesar do factóide com exibições de musculatura e direito à sunguinha indecente no amasso à namorada mais jovem, Lula encerrou, no meio do ano passado, uma série de 10 tratamentos quimioterápicos (apontados como bem sucedidos). Por isso, seus 76 anos pesam muito mais e não garantem a resistência suficiente para eventuais quatro anos desgastantes de poder presidencial.

Outra megaincógnita é Sérgio Fernando Moro. O ‘Super-Herói da Lava Jato’, que foi transformado em vilão pela petralhândia, pelo bolsonarismo e pelo “Poder Supremo”, ainda luta para se firmar. Definitivamente, não é o queridinho do establishment. Tanto que uma parte agressiva do Centrão e o PT ensaiam uma aliança inusitada para criar uma (covarde) CPI destinada a investigar o sigiloso contrato de trabalho entre Moro e o escritório de advocacia transnacional Alvarez & Marçal. Se o negócio emplacar, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro fica diante de duas hipóteses: ser massacrado politicamente ou sair bem da inquisição. Se for aprovado no cruel teste de rigor seletivo, Moro se credencia como presidenciável, a tal “terceira via”. A impressão é que seus potenciais aliados aguardam o desfecho do movimento truculento contra Moro para decidir se vêm com ele ou se arrumam um personagem substituto. Um acordo com Ciro Gomes é improvável. Um casamento com João Doria depende da decolagem do governador de São Paulo, até agora altamente sabotado pela cúpula tucana.

Nos bastidores, surge a especulação de que o ex-presidente Michel Temer pode entrar na corrida maluca ao Palácio do Planalto. O MDB ainda não tem certeza sobre uma candidatura da senadora Simone Tebet. Os sempre governistas da cúpula do partido sentem dificuldades em apoiar a reeleição de Bolsonaro, mas também hesitam em aderir a Lula (porque continua vivo o desgaste do fim do torturante casamento com Dilma Rousseff). Pesarão na decisão o papel e a grana do novo partido União Brasil (fusão do DEM com o PSL). A sigla deve contar com R$ 1 bilhão (fundo eleitoral + partidário). É um absurdo de dinheiro para torrar na campanha (e nos negócios, negociações e negociatas em torno dela). Por enquanto, especula-se na cooptação ao Podemos, atraindo Sergio Moro. Mas o candidato que não decola dificulta a operação.

Nesse cenário confuso, inconfiável e volátil, o candidato concreto é Jair Bolsonaro. Mas o presidente não tem moleza na reeleição. Além do desafio de não permitir a desidratação da base aliada e da necessidade de obter apoio de candidatos a governador com viabilidade eleitoral (ou reeleitoral), Bolsonaro precisa definir, urgentemente, uma agenda que deixe claro o que ele precisa prometer a um amplo eleitorado indeciso que terá de conquistar ou recuperar. Ele terá de mostrar a real capacidade de ser melhor que o primeiro mandato, que teve inegáveis avanços em infraestrutura, mas que necessita reafirmar reformas estruturais que não avançaram. Bolsonaro enfrentará o ódio dos adversários e inimigos. E também será obrigado a lidar com uma “crise de fé” (mistura de ceticismo e perda de confiança) em grande parcela da classe média que o elegeu em 2018. Em síntese: o trono do Palácio do Planalto é uma legítima cadeira elétrica.

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