O ‘abraço dos afogados’ Lula e Alckmin tenta apagar o passado para a sucessão presidencial

Será viável politicamente uma aliança entre Lula e Alckmin, duramente atacada por João Dória – que ainda sonha em formar dupla com Moro para enfrentar Jair Bolsonaro, piloto da máquina com o Centrão?

  • Por Jorge Serrão
  • 20/12/2021 12h54
Montagem/Felipe Rau/Estadão Conteúdo/Werther Santana/Estadão Conteúdo Montagem com Alckmin e Lula Alckmin e Lula se reuniram em São Paulo para falar sobre as eleições de 2022

A levianamente antecipada sucessão presidencial de 2022 ainda vai produzir canalhices inimagináveis. A oposição perdida (e sem proposta para melhorar o Brasil) tem a certeza de que Jair Messias Bolsonaro é o candidato a ser batido. Se as pesquisas mentirosas estivessem com resultado minimamente verdadeiro, os variados postulantes contra o presidente não estariam se comportando com tanto desespero em relação à febre para formar alianças impensáveis e estrategicamente suicidas do ponto de vista político-ideológico. Todos optam por rasgar o passado, cinicamente fingindo que nunca foram inimigos, apenas para se unir contra o inimigo-comum Bolsonaro. Derrotá-lo não será fácil, já que nenhum presidente deixou de se reeleger desde FHC. O poder da máquina sempre foi decisivo. Vai deixar de ser agora, com Bolsonaro coligado com o Centrão, e apenas afrontado pelo Poder Supremo, a mídia hegemônica e os partidos de esquerda?

Quem poderia imaginar, em sã sanidade, uma chapa presidencial encabeçada pelo “descondenado” Lula da Silva com o picolé-de-chuchu Geraldo Alckmin – um velho tucano abandonado no ninho dos traidores? Embora seja muito prematuro para definir se vai encarar a vice-presidência na chapa petista ou se vai disputar, novamente, o governo do Estado de São Paulo – pois tudo só se definirá nas convenções partidárias no meio do ano que vem -, Alckmin flerta, escancaradamente, com o chefão da petelândia. Domingo, no caríssimo e requintado restaurante Figueira Rubayart, em São Paulo, Lula e Alckmin deram um legítimo “abraço dos afogados” durante um jantar que reuniu a nata esquerdista, inclusive com a presença do senador alagoano Renan Calheiros (muito vaiada na internet).

Geraldo Alckmin se superou. Para tentar justificar moralmente o esquisito namoro com Lula, que pode acabar em um casamento de futuros derrotados, o ex-governador de SP ponderou a máxima cínico-pragmática: “Passado não importa”. Com esse gesto, Geraldo até lembrou o líder máximo do PSDB, o príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, que certa vez, pediu para que esquecessem o que ele escreveu em seu passado marxista. Mas será quase impossível apagar tudo de ruim que Geraldo já falou sobre Lula. As redes sociais têm memória. Vídeos com violentos ataques pessoais do tucano ao petista viralizam intensamente. Assim, não dá para esquecer os xingamentos pretéritos. Além disso, ambos serão duramente atacados por João Doria – o tucano que tenta se viabilizar como terceira via, sonhando até que Sergio Moro se torne seu aliado, como vice.

O eleitorado sabe o que todos fizeram nos verões passados. A maioria não parece disposta a esquecer de nada. A cleptocracia tupiniquim não se emenda. Tucanos e petralhas tentam reeditar a famosa “estratégia das tesouras” – na qual a cúpula dos dois partidos tinha uma espécie de compromisso não-assinado de alternância no poder. Agora, fica evidente a crise de abstinência de poder e de tetas na máquina pública. A “doença” é causada pela surpreendente vitória de Bolsonaro em 2018. Mais lamentável que a união entre os partidos primos de esquerda é o papel de uma imprensa desmoralizada que faz a propaganda de uma aliança bem costurada e financiada com a grana pública roubada nos mensalões, petrolões e afins.

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