Politização da pandemia de Covid-19 gera distorção sobre ‘governantes genocidas’

Grande dúvida é se a qualificação da assassinos em massa deve ser atribuída, também, aos que praticaram corrupção com as verbas públicas da saúde

  • Por Jorge Serrão
  • 24/05/2021 17h33 - Atualizado em 24/05/2021 18h21
Leopoldo Silva/Agência Senado - 20/05/2021 Bancada da CPI da Covid mostra sentados lado a lado, Eduardo Pazuello, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros, todos com trajes sociais Durante seu depoimento na CPI da Covid-19, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi comparado ao carrasco nazista Adolf Eichmann

Nos dicionários, a palavra genocídio (do grego genos – tribo, raça; e do latim cide – matar) é usada para fazer referência ao ato de exterminação sistemática de um grupo étnico ou a todo ato deliberado que tenha como objetivo o extermínio de um aspecto cultural fundamental de um povo. Genocida é quem mata ou manda assassinar em massa. Ultimamente, o termo vem sendo “ressignificado” pela novilíngua esquerdopata. Houve uma vulgarização do uso da palavra genocida na CPI da Covid-19. Um senador chegou a comparar um determinado administrador público ao carrasco nazista Adolf Eichmann.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, deverá ser considerado genocida se, no futuro, ficar demonstrado que ele não deveria ter inibido a população carioca de frequentar as praias e parques? O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, deverá ser considerado genocida se, no futuro, ficar demonstrado que ele não deveria ter decretado toque de recolher em Brasília? A respeito do uso da cloroquina – o principal motivo da acusação de prática de genocídio –, o senador Marcos Rogério, de Rondônia, apresentou e solicitou a juntada aos documentos da CPI de um vídeo listando os governadores abaixo fazendo as seguintes declarações:

1 – Governador de Alagoas, Renan Filho: “O que o estado de Alagoas vai fazer é deixar a cloroquina à disposição do uso médico. Quem decide se o paciente usa ou não cloroquina ou qualquer outro medicamento em Alagoas é o médico e a ciência”.

2 – Governador do Pará, Helder Barbalho: “Nós, do governo, já fizemos a aquisição de 615 mil hidroxicloroquinas, 940 mil azitromicinas. Isso significa 188 mil tratamentos e, neste momento, nós estamos levando ao interior e à capital a quarta entrega, que totalizam 75 mil hidroxicloroquinas e 227 mil azitromicinas”.

3 – Governador do Piauí, Wellington Dias: “Autorizei o secretário Florentino e, também, a partir de orientação do COE [Comitê de Organização Emergencial Covid-19, que trata do coronavírus], autorizei uma compra mais elevada de substâncias, a cloroquina, a hidroxicloroquina, a azitromicina, enfim substâncias que estão sendo experimentadas”.

4 – Governador do Maranhão, Flávio Dino: “A cloroquina integra o tratamento que é feito aos pacientes hospitalizados, sempre a critérios dos profissionais de saúde”.

5 – Governador de São Paulo, João Doria: “Quero deixar claro a posição do governo do Estado de São Paulo em relação à cloroquina. Foi o médico infectologista David Uip, coordenador do Comitê de Saúde do Grupo de Contingência da Covid-19, que sugeriu, que recomendou ao ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, que distribuísse o medicamento na rede pública do país”.

Em sua fala, o senador de Rondônia deixou claro que o objetivo de sua apresentação não era criminalizar os governadores, pois entendia que eles estavam tentando salvar vidas com os meios disponíveis no momento. Outro ponto: segundo informações levadas à CPI pelo Senador Luis Carlos Heinze, do Rio Grande do Sul, infectologistas e cientistas de renome internacional, inclusive laureados com o prêmio Nobel de medicina, são apoiadores de tratamento preventivo na pandemia. Heinze informou, também, que grupos formados por milhares de médicos apoiam o tratamento preventivo, como o grupo Médicos pela Vida. Por fim, após listar incontáveis regiões, do Brasil e do exterior, que estão aplicando com êxito o tratamento precoce, o senador falou de seu receio da politização do tratamento.

Uma única certeza: até agora, todo o mundo ainda tem muito a aprender sobre como tratar a pandemia que ora assola a humanidade; os erros e acertos ficarão para a avaliação dos historiadores. Considerando que a própria OMS modificou várias vezes seu entendimento sobre os diferentes aspectos da Covid-19, e levando em conta as dúvidas existentes ainda hoje sobre o lockdown, a eficácia de determinadas vacinas, o uso de máscaras (o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, CDC, na sigla em inglês, passou a recomendar o uso de duas máscaras), chega a ser uma desonestidade intelectual acusar de genocida quem, de boa-fé, usou as tentativas disponíveis no momento para minimizar o problema.

Por outro lado, o termo genocida pode ter outra utilidade: designar quem pratica corrupção contra a vida de milhões de habitantes do Brasil. Ele pode ser muito bem aproveitado para aqueles que praticaram superfaturamentos e outras falcatruas com os recursos destinados ao combate à pandemia, como os repasses de dinheiro para instalação de hospitais de campanha, para a compra de respiradores, para a criação de leitos em UTI etc. Se for por aí, somos a Pátria dos Governantes Genocidas?

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