Titular da cadeira do Palácio do Planalto é um refém da cleptocracia

Projeto reeleitoral de Bolsonaro dependerá da percepção social de melhora na economia, da melhoria da aprovação do governo e de como o presidente conseguirá se libertar da influência da base aliada fisiológica

  • Por Jorge Serrão
  • 10/11/2021 14h44 - Atualizado em 10/11/2021 16h59
Arquivo/Agência Brasil Fachada do Palácio do Planalto em Brasília no entardecer Fachada do Palácio do Planalto

Quem manda no Brasil, de verdade, é a oligarquia que comanda o estamento burocrático, na maioria das vezes obedecendo ordens de fora para dentro do país. O tal establishment exerce hegemonia no poder político na manipulação de seus reais tentáculos: o poder econômico e o poder criminoso. Nesse regime cleptocrático, do crime institucionalizado, o narconegócio tem um papel relevante, junto com todos que se associam, delitivamente, nas relações com a máquina estatal, nos outros “poderes” (Executivo, Legislativo, Judiciário e Militar), na União, nos Estados e nos Municípios. O Presidente da República é simplesmente um suposto chefe de Estado e de governo, refém da cleptocracia.

O modelo estatal brasileiro é essencialmente corrupto. O titular da cadeira (elétrica?) do Palácio do Planalto é um fantoche eleito pelo povo. Manda muito menos do que pensa e do que pode. Assim, não faz diferença seu perfil ideológico. A não ser para os “torcedores” políticos, de nada valem os rótulos de esquerda, centro ou direita. Pouco importa a qual partido político ele é filiado. Tanto faz se é conservador ou progressista. No final das contas, o sujeito tem apenas a “ilusão de poder”. Na realidade, é um prisioneiro da cleptocracia. Fecha com ela – e se locupleta – ou apanha dela. Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão…

Esse é o contexto de Jair Messias Bolsonaro. De modo absolutamente surpreendente, contrariando todas as previsões e “pesquisas” iniciais, ele foi eleito presidente em 2018. A facada de Adélio Bispo não o matou e nem o tirou da disputa. Muito pelo contrário, o impedimento médico (espertamente aproveitado) de não participar dos debates, evitou desgastes e pavimentou a vitória indesejada. Desde antes de assumir, Bolsonaro é alvo sistemático de ataques dos inimigos. Também é sabotado por muitos que parecem “aliados” (mas, na verdade, são “cavalos de tróia” infiltrados no governo). Essas peças figuram na lista de “traidores” acumulada pelo presidente. Tende a crescer até o fim de 2022.

Jair Bolsonaro não conseguiu criar seu próprio partido político, e agora se vê obrigado, sem melhores alternativas, a se filiar ao PL (Partido Liberal), que vai formar uma trinca com o PP (Progressistas) e o PRB (Republicanos) para a “aventura” da reeleição em 2022. As condições de agora são muito diferentes da eleição passada. Em 2018, Bolsonaro e Mourão eram “azarões”. Na próxima, o vice não será mais o general. Ambos romperam pessoalmente, embora se tolerem politicamente. Mourão já avisou que jamais bateria chapa contra Bolsonaro. Por isso, se seguir na política (o que é uma tendência), vai disputar uma vaga ao Senado ou (o que se avalia o momento) ao governo do estado do Rio de Janeiro. Bolsonaro vem à reeleição, provavelmente, tendo um vice do PP. Seu sucesso dependerá de três fatores: 1) percepção popular de melhora real da economia; 2) avaliação positiva do governo; 3) reflexos psicológicos da pandemia, sobretudo a quantidade de 600 mil mortes.

Nesse contexto, a aprovação da PEC dos Precatórios, viabilizando o Auxílio Brasil, foi uma vitória política fundamental para o presidente. Tanto que Bolsonaro twittou, comemorando: “Com os resultados do ‘fique em casa que a economia a gente vê depois’ aplicado por muitos governadores e prefeitos, faz-se urgente auxílio aos mais necessitados. Editado decreto que regulamenta o Auxílio Brasil, substituindo o Bolsa Família e trazendo ampliação em seu escopo. Entre as novidades estão instrumentos para que as famílias possam se sustentar por conta própria e inserção no mercado de trabalho. Além de simplificar a cesta de benefícios, o programa facilita a entrada de novas famílias que estejam em situação de vulnerabilidade. O Auxílio Brasil integra várias políticas públicas de inserção socioeconômica, possibilitando às famílias o aumento do valor do benefício básico”.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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