Adiamento do Rock in Rio mostra que Réveillon e Carnaval de 2022 estão comprometidos

No início de 2021, pairou em nossas mentes algo como uma virada de chave para um novo ano, mas o cenário é bem outro

  • Por Paulo Mathias
  • 07/03/2021 08h00
EFE/ Antonio Lacerda Pessoas caminham nas ruas com comércio fechado após aumento das restrições pela pandemia da Covid-19 Nova onda da Covid-19 chegou com toda força ao Brasil, com novas variantes e queda dos índices de isolamento social

Esta semana, a imprensa veiculou uma notícia a respeito do adiamento do Rock in Rio 2021 para setembro e outubro do próximo ano, em razão do caos que se instalou no país, provocado pelo avanço da pandemia do coronavírus. Isso me faz refletir sobre a possibilidade de não haver nem festas de fim de ano, muito menos Carnaval, em 2022. Lamentável não é o adiamento dessas comemorações, mas sim, da nossa esperança de enxergar um fim para o momento mais conturbado que vivenciamos até os dias de hoje. Muita paciência e coragem para enfrentar dias difíceis é o que nos resta.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil vive o pior momento da pandemia desde o seu início, com o SUS (Sistema Único de Saúde) em seu ápice de lotação. São 19 estados do país em alerta para a ocupação de leitos de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). A Fundação aponta que os dados numéricos de casos e óbitos registrados em julho passado são inferiores aos que ocorrem hoje. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o alerta é crítico, com mais de 80% de taxa de ocupação de leitos. Os indicadores fornecidos pela Fiocruz apontam 18 estados e o Distrito Federal com taxas acima de 80%, sendo o Acre e o Amazonas os que estão em situação mais crítica.

A nova onda da Covid-19 chegou com toda força ao Brasil, com novas variantes e queda dos índices de isolamento social. São muitas as causas que levaram o país a esse estado deplorável em que vivemos. Dentre esses motivos, o crescente recorde de mortes diárias provocadas pelo coronavírus, beirando 2 mil pessoas, além do aumento de novos casos, contabilizando em 22% de crescimento diário e cerca de 55.318 em números. Além disso, houve a redução do isolamento social para 31,1%, o menor patamar registrado, a taxa de transmissão da doença atingiu seu maior índice, com alta de 1,13%, e a ocupação de leitos está acima de 90%. Embora o governo tenha voltado a financiar leitos de UTI, o que se vê diariamente são pessoas morrendo em ambulâncias e corredores de hospitais por falta de vagas. Governadores de diversos estados também estão pedindo toque de recolher à população, e prefeitos de 649 municípios se mobilizaram para a compra de vacinas, com apoio do Senado, o que levou à aprovação de uma MP (Medida Provisória) que autoriza a compra de vacinas pelas prefeituras. Além de tudo isso, houve a decisão de reinício da Fase Vermelha no estado de São Paulo, decretada pelo governador João Doria.

No início de 2021, pairou em nossa mente algo como uma virada de chave para um novo ano, com esperança de vacinas para todos, retomada da economia, mesmo que tardia. Mas o cenário é bem outro. Em um ano de pandemia, a informação que se tem é que o Brasil tem aberto um leito de UTI-Covid para cada 10 mil pessoas, de acordo com um levantamento realizado pela startup Bright Cities. Essa distribuição traz à tona o reflexo das desigualdades econômicas e regionais do país, sendo que, das 27 unidades da federação, sete delas possuem um leito para menos de 9 mil habitantes, de acordo com a população estimada pelo IBGE no ano passado. Por outro lado, nesse período de um ano, a rede de atendimento intensivo foi ampliada em 25.186 unidades, levando o país a contar com 66.497 leitos de UTI em janeiro de 2021, números que não são suficientes para dar conta do caos da pandemia no país. A morosidade das decisões tem levado ao agravamento desta realidade, em que as perspectivas de uma solução a médio prazo ficam cada vez mais distantes, com os governantes desnorteados e ações contraditórias que confundem ainda mais a população e não apontam para a saída do problema.

Outra questão a ser levada no meio desse marasmo de decisões por parte dos representantes do povo é a aquisição de vacinas. Enquanto o mundo todo se preocupa com a compra de imunizantes de origens diversas, por aqui, o que se sabe é que apenas 3,62% da população brasileira recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19, e 1,16% a segunda dose. O problema não está na capacidade do país em material humano e infraestrutura de vacinação, mas sim, na quantidade de insumos para a fabricação dessas vacinas e a compra de doses de diferentes origens pelo governo. De acordo com a Anvisa, o Brasil tem condições de vacinar 60 milhões de pessoas por mês contra a Covid-19, o que falta é a vacina. Segundo Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e médico sanitarista, o país poderia concluir a imunização contra o coronavírus se tivesse negociado a compra de vacinas com antecedência. Diante dessa situação, alguns municípios alertam para a necessidade de suspender as vacinações, com o esgotamento de imunizantes da primeira dose, antes mesmo da chegada da remessa para a segunda dose. Com a esperança de dias melhores, cada vez mais distantes, o que se desponta é um adiamento de sonhos, fatos, lockdown de expectativas e incerteza do que está por vir. O país numa montanha russa. O que resta é a atitude de urgência por parte do governo, na busca por soluções imediatas. A meu ver, a mira na compra de vacinas em larga escala para a imunização em massa é a única esperança de dias melhores, de recuperação econômica e de um retorno à normalidade. Coragem, a palavra da vez.

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