Constantino: Bolsonaro precisa sair do segundo turno, lembrar que governa para todos e desistir de ser ‘Lula de direita’

  • Por Jovem Pan
  • 01/08/2019 07h31 - Atualizado em 01/08/2019 08h39
Wilton Junior/Estadão Conteúdo Está na hora de o presidente parar com declarações polêmicas

Em torno da nova rodada verborrágica do presidente, com insultos para todo lado, muitos bolsonaristas disseram nas redes sociais que votaram nele para isso mesmo, para dizer o que pensa, sem filtro, para atacar comunistas. Entende-se o cansaço de muita gente com os políticos engomadinhos e falsos, e a demanda por algo mais, digamos, genuíno, ainda que tosco. Entende-se, também, a indignação com o duplo padrão de boa parte da imprensa, muito afetada e crítica quando Bolsonaro diz algo absurdo, mas várias vezes pronta para passar pano nas estultices de esquerdistas. O bolsonarismo é, em parte, uma resposta a isso.

Mas é preciso entender que se essa gente votou em Bolsonaro para isso, tantos outros milhões, certamente em maior número, não. Votaram por inúmeros motivos, entre eles impedir a volta do PT ao poder, ou talvez as reformas liberais de Paulo Guedes, ou ainda as mudanças no combate à criminalidade. E eis o ponto-chave: Bolsonaro foi eleito por todos os perfis, e mais importante: governa para todos os brasileiros, inclusive aqueles que não votaram nele.

Quando a campanha termina, é preciso descer do palanque. Somente populistas ficam eternamente como se estivessem num segundo turno, jogando para a plateia. Há uma dificuldade muito grande dessa ala bolsonarista em entender conceitos básicos de democracia e convívio civilizado em sociedade. Acham ridículo, por exemplo, falar-se em liturgia do cargo, como se isso fosse besteira. Não compreendem a importância institucional que o presidente tem. E até de um ponto de vista pragmático, ignoram que essas polêmicas desnecessárias todas desviam foco e energia daquilo que importa, e que vem sendo feito inclusive por setores do governo. A menos que a meta seja outra…

Seria Bolsonaro um falastrão, que atrapalha seu próprio governo ou alguém com visão estratégica jogando xadrez? Para o cientista político Christian Lynch, professor da UERJ, o bolsonarismo se constrói como um PT ao contrário. “Não tem projeto de Governo, apenas de poder”, afirma. “O plano de Bolsonaro é manter domínio sobre 30% do eleitorado e se tornar o Lula de direita”, disse.

Estaria o Brasil condenado a escolher para sempre entre tipos como Lula ou Bolsonaro? Quero crer que não. E espero que, após esse momento de revolta legítima que tem alimentado o ressentimento de muitos, a maioria possa buscar soluções mais moderadas, democráticas e, acima de tudo, condizentes com uma política decente.

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