Constantino: Há linha tênue entre patriotismo saudável e nacionalismo tóxico

  • Por Jovem Pan
  • 09/09/2019 09h30
EFE Nos EUA, Donald Trump confunde nacionalismo e patriotismo

No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) participou de seu primeiro desfile de Sete de Setembro ao lado de lideranças de seu governo, como o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e figuras públicas, como o apresentador Silvio Santos e o bispo Edir Macedo.

“Eu vivo num país [Estados Unidos] em que se valoriza muito esse sentimento patriótico, e é importante resgatá-lo, lembrando que o patriotismo une as pessoas em torno de um projeto comum, de uma mesma língua, história, cultura, trajetória, coisas que devem ser valorizadas, sim. Mas com ressalvas. Eu acho que foi bonita a cerimonia, foi importante, acho que Bolsonaro venceu as eleições claramente com essa pauta de acabar com essa mania de só cuspir em cima de tudo que vem do Brasil, esse complexo de vira latas que o Nelson Rodrigues tanto falava, acho que ele venceu com essa mensagem e é importante tentar resgatar o patriotismo.

Mas a ressalva que eu faço, usando o exemplo dos Estados Unidos mesmo, é que há linha tênue que separa o patriotismo saudável e nacionalismo tóxico. O nacionalismo, que não tem nada a ver com o patriotismo, é você pegar um viés coletivista em que, em nome do interesse nacional, você parte para um tribalismo xenófobo. O outro, o estrangeiro, passa a ser visto como inimigo, é uma coisa de nós contra eles; você parte para um ufanismo boboca, tudo aqui tem que ser bom, tudo o que vem de fora tem que ser olhado com desconfiança; o indivíduo passa a ser visto como meio sacrificável em prol desses interesses coletivistas… Então o nacionalismo é muito ruim, é perverso e já levou, no extremo, a situações de batalha, de guerra, como o de Hitler.

Trump, nos EUA, veio com essa mensagem de ‘Make America Great Again’ (Torne a América boa de novo, em português), patriota, mas se diz muitas vezes um nacionalista. Então é preciso fazer essa distinção, porque as vezes as pessoas começam com esses conceitos positivos, de tentar elevar traços comuns, mas você sai desse conceito e pula pra outro que não tem nada a ver, que deixa isso para trás e começa a endeusar líderes, políticos passam a ser considerados ‘pais do povo’, como Getúlio Vargas; o petróleo é nosso e essas bandeiras bobocas.

É muito saudável que o Brasil retome o patriotismo, está fazendo falta e a gente vive cuspindo em tudo que é nosso, mas desde que com realismo, reconhecendo os defeitos, reconhecendo que tem muito o que melhorar mesmo e sem cair nessa bobeira que é o nacionalismo tribal, nós contra eles, o que vem de fora é ruim, nosso líder é nosso pai. Essa coisa é muito preocupante.

Não estou dizendo que o Brasil está nessa com Bolsonaro. Esteve, talvez, com Lula, um líder populista que muitas vezes usou isso, inclusive com ‘o petróleo é nosso’. O Bolsonaro está indo na contramão, privatizando, mas tem uns traços populistas ali que preocupam um pouco. Portanto, patriotismo sim, nacionalismo, não”, avaliou Constantino.

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