Constantino: Se Bolsonaro tirasse turma conspiratória e fanática, o governo seria melhor

  • Por Jovem Pan
  • 18/01/2020 07h58 - Atualizado em 18/01/2020 08h00
jair-bolsonaro Jair Bolsonaro exonerou Roberto Alvim, após enorme repercussão negativa quanto a citação atribuida ao nazismo

O País parou nesta sexta-feira (17) para debater o vídeo do então secretário nacional da Cultura do governo Bolsonaro em que a alusão ao nazismo era impossível de ser negada.

Roberto Alvim, após enorme repercussão negativa e merecida, e certa hesitação do presidente, acabou sendo exonerado do cargo. Menos mal. O presidente ainda não perdeu totalmente o juízo, mas que sirva de alerta para que ele faça escolhas mais criteriosas, escutando menos o seu guru. Estou para conhecer um olavete que preste. O contato mais próximo que eu tive com alguns me provou como é difícil encontrar alguém com caráter nessa seita fanática.

A narrativa nazista já se espalha. “O cara pirou”. Pirou uma ova, já era pirado. Comentei isso com amigos ao ver suas entrevistas. Estava na cara que era um fanático, radical, que teve uma epifania para largar a extrema esquerda e embarcar na “extrema direita”. Quem não viu isso foi cego.

O nacionalismo fanático é a degeneração do patriotismo saudável. Assim como o populismo autoritário é a degeneração da democracia republicana.

Essas seitas reacionárias atraem sujeitos ressentidos — em que a ideologia é um pretexto para dar razão ao fanatismo e ao ódio. Por isso tanto radical de esquerda se torna radical de direita.

O caso, porém, não se encerra com a demissão. A mentalidade precisa ser extirpada, expurgada. O presidente precisa ser cobrado. Para ele a arte precisa ser subjugada ao Estado? Para ele o nacionalismo deve se impor dessa forma?

Eis um bom momento para discutir o fim da Secretaria da Cultura. Afinal, se há um instrumento, haverá sempre um risco de fanáticos — da esquerda e direita — de utilizarem ele para impor a sua visão imoral ou autoritária de mundo.

Os mesmo métodos são usados pela esquerda e direita, apenas com o sinal trocado. No mais, o resgate da Cultura não passa pelo Estado — deve vir da iniciativa da própria sociedade.

Dito isso, como interpretar o caso? Um fato isolado ou um indicativo de que o governo Bolsonaro flerta com o totalitarismo?

Eu entendo a histeria dos meus colegas que enxergam no Caso Alvim um sintoma da essência totalitária de Bolsonaro. O seguro morreu de velho, cochilou o cachimbo cai, todo cuidado é pouco. Mas Alvim caiu no mesmo dia, enquanto Paulo Guedes e Sergio Moro permanecem. A banda podre é eliminada aos poucos e os bons ficam. Cálculo político? Pode ser. Mas é um fato.

Agora, para acabar com qualquer dúvida ou apreensão legitima, bem que o presidente poderia passar régua em tudo quanto é olavete no governo, não é mesmo? Se ele rifasse essa turma conspiratória e fanática, o governo seria outro — e melhor. E a esquerda perderia o grosso de sua narrativa.

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