Rodrigo Constantino: Bolsonaro deve colocar mesmo empenho da batalha moralista na Previdência

  • Por Rodrigo Constantino/Jovem Pan
  • 08/03/2019 09h27
Alan Santos/PR Ou Bolsonaro e sua militância colocam no mínimo o mesmo empenho da batalha moralista na questão previdenciária, ou a reforma vai fracassar, e junto dela o seu governo

A postagem do vídeo tosco pelo presidente Bolsonaro continua gerando polêmica. Alguns tentam justificar o ato, argumentando que serviu para expor a hipocrisia “progressista” e transformar esquerdistas em conservadores moralistas da noite para o dia, enquanto outros alegam que há quebra de decoro e uma atitude incompatível com a liturgia do cargo, por mais que as imagens em si sejam condenáveis.

Qual lado está com a razão? Penso que ambos.

Mas o principal não é isso, e sim o desvio de foco, como vários formadores de opinião apontaram. Entre eles, Carlos Alberto Sardenberg, que escreveu: “Permitam-me citar um aprendizado de décadas de jornalismo. Sempre que se apresenta a seguinte dúvida — terá o governo feito um lance genial que a gente não entende ou cometido um enorme equívoco —, em 99% dos casos, é a segunda opção que se confirma”.

Aos que pensam que Bolsonaro está propositadamente desviando a atenção da reforma da Previdência, um tema que reduz popularidade, para colocar na pauta temas de agrado de sua base eleitoral, ou seja, ficaria todo mundo discutindo o “golden shower” enquanto a reforma da Previdência passava de fininho, Sardenberg é lacônico: “Não faz o menor sentido”.

E, de fato, há indícios preocupantes de que o presidente perde apoio mesmo dentro de sua base eleitoral. Sua aprovação não é mais alta do que ex-presidentes nesse mesmo período. Um amigo meu, deputado da base, comentou em privado que em seu ciclo de contato pessoal está todo mundo detonando Bolsonaro, quase 100% de eleitores dele em 2018. Esse deputado entende que a prioridade é a Reforma da Previdência, e que Bolsonaro precisa entrar mais fundo no jogo da comunicação.

O presidente, no entanto, prefere usar sua rede social para polêmicas secundárias. É verdade que Bolsonaro pediu nesta quinta-feira, durante cerimônia do aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, na sede da Marinha, no Rio, “sacrifício” dos militares diante da reforma da Previdência que os atingirá. Mas ainda é muito pouco, e talvez tarde demais. Ou Bolsonaro e sua militância colocam no mínimo o mesmo empenho da batalha moralista na questão previdenciária, ou a reforma vai fracassar, e junto dela o seu governo.

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