Rodrigo Constantino: Brasil não pode ficar refém dos filhos do presidente

  • Por Rodrigo Constantino/Jovem Pan
  • 15/02/2019 08h06
Reprodução/Flickr Esses “bolsokids” parecem gostar de uma confusão e se enxergam como os únicos soldados leais numa batalha de vida ou morte

Gustavo Bebianno pode ser flor que não se cheira, e mentiu sobre conversas que teria tido com o presidente. Mas Carlos Bolsonaro achou melhor lavar a roupa suja em público, e jogou a coisa no ventilador. A fritura de Bebianno atingiu grau máximo quando o próprio Jair retuitou a mensagem do filho. Em vez de simplesmente demitir seu ministro, colocou Bebianno numa saia justa e contra a parede.

A forma como tudo foi conduzido soa amadora demais, atabalhoada demais, e expõe um grau de desconfiança absurdo dentro do núcleo do governo. Carlos não ficou satisfeito: tem desferido ataques contra a imprensa, mesmo aquela mais independente. Ninguém pode criticar seu querido papi.

O problema, além das intrigas, é que Carlos não tem cargo no governo, não é ministro, não foi eleito para isso, e sim como vereador do Rio.

Gustavo Nogy, colunista da Gazeta do Povo, comentou: “A interferência dos filhos presidenciais na República é mais séria do que parece. Não tem graça nenhuma. Eles não são ministros e, portanto, não assumem responsabilidades. Fazem o que querem, como querem, e o país sofre as consequências de embates familiares e chiliques tribais”.

Se os bolsonaristas, agora, gostam de dizer que ninguém votou em Mourão, esquecendo que acusavam os petistas de terem votado em Temer, mais certo ainda é afirmar que absolutamente ninguém votou em Carlos ou Eduardo para presidente. Eles são filhos de Jair, ponto. Não vivemos numa monarquia, e ambos não possuem qualquer linha sucessória no poder.

A ala militar estaria preocupada com o vazamento de conversas privadas e a forma como Carlos fritou Bebianno. É uma crise que pode sinalizar maiores problemas à frente.

Quem controla os filhos do homem? O próprio presidente deveria fazê-lo, como já sugeri antes. Esses “bolsokids” parecem gostar de uma confusão e se enxergam como os únicos soldados leais numa batalha de vida ou morte, postura totalmente tóxica para o bom andamento da democracia e do governo.

O governo tem muito trabalho pela frente. A começar pelas reformas propostas por Paulo Guedes na economia e por Sergio Moro na segurança.

O Brasil tem pressa. Não pode ficar refém dos filhos do presidente numa disputa interna por poder ou lidando com questões psicológicas paternas. Eduardo é deputado, Carlos é vereador. Que foquem nessas funções públicas, pelas quais foram eleitos.

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