Rodrigo Constantino: Guedes e Onyx não precisam ser ‘best friends’

  • 09/01/2019 07h45
Valter Campanato/Agência Brasil A presença de Onyx Lorenzoni como articulador tem enfraquecido a posição mais firme de Guedes

“Lógico que não teve rusga. Nem carrinho por trás, nem tesoura voadora, não teve nada. Nesta terça-feira (08) de manhã eles se encontraram. “Best friends“ — disse o general Heleno sobre a suposta briga entre Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni.

“Não existe nada disso. E acho que esse entrosamento vai ser cada vez maior, porque, quando a gente ouve um discurso, e eles não são combinados, a gente percebe que há uma identidade de propósitos” — disse o ministro do GSI.

Identidade de propósitos é o que deve manter a equipe sintonizada. Guedes e Onyx não precisam ser “best friends”. O importante é que o chefe de ambos entenda realmente a urgência das reformas liberais, especialmente as mudanças na Previdência, que não podem ser cosméticas. Bolsonaro demonstrou humildade na área econômica ao longo da campanha inteira, apontando para seu “posto Ipiranga”, e reforçou a mensagem agora.

O problema é se a ala política tiver mais peso na largada, na hora de apresentar a proposta. Tanto Onyx como o próprio Bolsonaro já deram sinais de fraqueza na questão da reforma, e se seus respectivos conhecimentos políticos prevalecerem sobre o conhecimento econômico do ministro Guedes, então a proposta já vai nascer capenga, tímida demais.

Se o desenho for o possível para ser aprovado no Congresso, sem melindrar grupos de interesse e com o cuidado de agradar companheiros no pior estilo corporativista, então Guedes terá emprestado seu nome para um engodo, praticamente uma farsa, já que não se pode chamar de choque liberal um modelo que deixa intactos os privilégios do setor público na questão das aposentadorias. Cortar na carne é preciso.

Se Guedes for “amigo” de Onyx, então a reforma previdenciária vai subir no telhado e a economia não vai deslanchar. O Brasil precisa dessas mudanças, e Guedes sabe disso. Melhor, então, que haja atrito dentro da equipe, entre as alas econômica e política, do que a ala econômica se curvar diante da política, já que o contrário parece menos provável. A presença de Onyx Lorenzoni como articulador tem enfraquecido a posição mais firme de Guedes.

A “amizade” entre ambos não interessa ao Brasil, se significar concessões demais por parte do ministro da Fazenda. Essa briga é uma que vale – e deve – ser comprada. E Guedes terá o apoio da maioria, especialmente daqueles mais esclarecidos que sabem que sem uma reforma previdenciária séria, os resultados do novo governo serão medíocres.

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