Rodrigo Constantino: Por que perder tempo falando em Olavo de Carvalho?

  • Por Jovem Pan
  • 24/04/2019 16h55
Reprodução/YouTube Olavo de Carvalho, idoso de camisa jeans clara e óculos, falando para a câmera. Atrás, uma estante de livros Eis o ponto importante nisso tudo: há uma clara disputa por espaço e poder dentro do governo

Enquanto o Brasil segue com sua economia patinando, com mais de 12 milhões de desempregados e com uma urgente e necessária reforma previdenciária subindo no telhado, eis que o foco do debate é Olavo de Carvalho. Para a vaidade do “astrólogo”, isso é tudo que ele queria. Mas o Brasil tem outras prioridades.

Por que, então, perder tempo falando do assunto? Simples: porque não se trata apenas de um filósofo desbocado que fica atacando os militares e fazendo campanha contra o vice-presidente, mas sim de um “guru” de uma seita fanática que tem, entre seus membros, ninguém menos do que dois filhos do próprio presidente, sem falar que ele mesmo colocou em destaque o livro de Olavo quando venceu as eleições.

Em nota lida pelo porta-voz, general Rêgo Barros, Bolsonaro reconheceu que as “recentes declarações” de Olavo “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos” no “projeto de governo”. O comunicado do presidente tenta cessar os ataques do escritor que têm provocado divisões na base bolsonarista e no núcleo central do governo.

A nota veio logo depois de nova trapalhada nas redes sociais: a conta oficial do presidente postou um vídeo em que Olavo atacava novamente os militares, supostamente culpados pelo avanço comunista no país. O vídeo foi apagado depois, mas o estrago estava feito. Carlos Bolsonaro também publicou em seu canal, e após a confusão, publicou vários elogios a Olavo e ataques a Mourão. O rapaz não vai parar!

Eis o ponto importante nisso tudo: há uma clara disputa por espaço e poder dentro do governo, dividido entre as alas liberal (economia), militar e olavista. Os liberais tentam fazer seu trabalho em paz, com foco e pragmatismo, sob a liderança de Paulo Guedes. Os militares ocupam vários ministérios e adotam visão mais tecnocrática e moderada. Já a ala olavista é a turma ideológica e radical, que fala em “revolução” (Marco Feliciano embarcou nessa, trocando Jesus por Olavo).

Daí a importância dessa “treta”. Bolsonaro, ao publicamente “passar um pito” no guru dos seus rebentos, tenta finalmente reforçar o peso da ala militar, dos seus ministros e do vice-presidente que ele mesmo escolheu (e quem votou em Bolsonaro também votou em Mourão, não vamos esquecer de Dilma e Temer). Mas muitos mantêm o ceticismo: é só uma crítica para inglês ver, ou é mesmo uma mudança de postura? O tempo dirá…

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