Apesar da crise política, investimento americano cresce na China

Autoritarismo do Partido Comunismo e denúncias de violação de direitos humanos elevam pressão sobre empresas americanas, mas prevalece a visão pragmática de que não dá para ficar fora do país

  • Por Samy Dana
  • 11/01/2022 15h06 - Atualizado em 11/01/2022 15h12
Hector Retamal/AFP - 24/09/2021 movimentos dos preços das ações são vistos nas telas de uma empresa de valores mobiliários em Xangai Movimentação na Bolsa de Xangai; investimento estrangeiro acelera na China

Enquanto as tensões entre China e Estados Unidos se elevavam no ano passado, com o país oriental sendo alvo de denúncias de violação de direitos humanos, o lógico era pensar que investidores estrangeiros, principalmente americanos, passariam a manter distância do gigante asiático. A realidade não poderia estar mais distante. Em meio à pressão para que as empresas americanas deixem a China, o investimento estrangeiro, na verdade, acelera no país. Os bancos americanos, por exemplo, estão aprofundando seus laços com a economia chinesa.

Segundo a agência Bloomberg, o JP Morgan recentemente assumiu o controle de uma empresa local no mercado de títulos e agora se movimenta para tomar a frente de outra parceira, de gestão de ativos. O Goldman Sachs está dobrando o número de funcionários locais. O Morgan Stanley entrou com pedido de cinco novas licenças para operar na China, e o Citigroup anunciou a ampliação das operações no país. Apesar das turbulências na arena internacional e das intervenções do governo na economia, a China segue sendo vista pelas empresas no exterior como a última grande fronteira para se investir. É onde estão as companhias de tecnologia mais inovadoras no momento e com uma economia que, mesmo desacelerando, deve crescer 5% este ano, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

PIB China
2022: +5%

Tudo na China é monumental. O mercado imobiliário, por exemplo, mesmo com a crise da gigante Evergrande, a maior empresa chinesa do setor, movimenta US$ 52 trilhões, o dobro do tamanho do mercado de imóveis nos Estados Unidos. E mesmo com as empresas chinesas negociadas no exterior perdendo metade do valor, os investidores continuam entrando nos novos lançamentos de ações na Bolsa de Hong Kong. Não se trata só do investimento financeiro. Segundo o governo chinês, o investimento estrangeiro direto, em fábricas e outros negócios, cresceu quase 20% no ano passado.

Mercado Imobiliário
China: US$ 52 trilhões
EUA: US$ 26 trilhões

Apesar do autoritarismo do Partido Comunista estar aumentando e das novas regulações em mercados como tecnologia, imóveis e educação limitarem o ganho das maiores empresas, novos negócios ocupam a lacuna dos antigos em ritmo acelerado. E os ganhos no mercado local se mantêm. Não é boa notícia para quem defende a liberdade econômica, e isso certamente vale para muitos estrangeiros que investem na China. Mas prevalece a visão pragmática de que não dá para ficar fora do país. O que, dentro de uma visão de negócios, acaba sendo compreensível, ainda que com certo gosto amargo.

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