Ashley Madison: o que a economia nos diz sobre a traição

Plataforma que conecta pessoas dispostas a pular a cerca subiu para 70 milhões de usuários e hoje é avaliada em US$ 1 bilhão; adultério pode levar a separação e impactar casal financeiramente

  • Por Samy Dana
  • 01/07/2021 09h24
wayhomestudio - br.freepik.com Jovem casal negro lado a lado na cozinha; o homem segura os óculos e tenta ver o que a mulher olha sorridentemente para o celular Quatro em cada dez assinantes do site Ashley Madison querem trair seus parceiros

Em plena pandemia, em meio a medidas de isolamento, muito se falou em um novo normal. Mas, para um grupo, nada mudou. Praticamente 4 em cada 10 assinantes do site Ashley Madison, que conecta pessoas que querem trair seus parceiros, continuaram se encontrando. Foram 38%, para usar números mais exatos, enquanto 62% dos usuários se abstiveram de encontros para evitar o risco de contaminação. Os dados foram levantados pelo jornal “Folha de S.Paulo”, que permitem olhar um aspecto curioso da vida econômica, a economia da traição. Ou da infidelidade. Chame pelo nome que quiser, é um ramo estudado por economistas há quase cinco décadas. Muitos trabalhos tentam entender os condicionantes que levam as pessoas a trair. Como a duração do relacionamento, o grupo demográfico ou mesmo quem trai mais, o homem ou a mulher. Só recentemente a infidelidade começou a ser estudada a partir de seu impacto econômico. Traição muitas vezes termina em separação, empobrecendo o ex-casal. Um dos dois terá que pagar pensão. Despesas antes compartilhadas agora precisam ser cobertas individualmente. Mesmo pessoas ricas precisam dividir seu patrimônio.

Segundo estudos, o tempo médio para alguém se recuperar do dano financeiro de uma separação é de cinco anos. Uma novidade nas últimas décadas foi o surgimento de serviços voltados para facilitar a traição. Mistura de rede social e site de encontros, o Ashley Madison é um exemplo. Lançada em 2002, no Canadá, a plataforma quase saiu do mercado seis anos atrás, processada por usuários depois de terem os dados roubados por hackers e colocados na internet. Por conta do escândalo, o IPO prometido para 2015 até hoje não aconteceu. Sobreviveu fazendo um acordo com os ofendidos e hoje é avaliada em US$ 1 bilhão. Depois do vazamento, levou dois anos para voltar a dar lucro. Na pandemia, o número de usuários subiu de 60 milhões para 70 milhões. O curioso é que a outra explosão no número de assinantes ocorreu em 2008, pior momento da crise internacional devido ao estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

O desemprego é um dos fatores já estudados como influentes para a infidelidade. É comum que ocorra uma crise de identidade quando se fica sem trabalho — fator que manteria os assinantes mesmo quando as demissões aumentam. Momentos de angústia financeira parecem levar mais pessoas a buscar o afeto de outra. E, no caso dos usuários do Ashley Madison, a buscar afeto fora do relacionamento. O Ashley Madison sofre com frequência acusações de sabotar a família e destruir casamentos. A empresa de defende dizendo que a plataforma não estimula ninguém a trair. E alega que a infidelidade torna as relações mais duradouras, evitando separações. Inclusive, contratou cientistas sociais e de dados para confirmar a tese por meio do histórico dos usuários. Mas a teoria, até hoje, não se confirmou.

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