Com falta de peças, seminovos estão mais caros do que carros 0 km

Pedidos aumentaram por causa da Covid-19; fábricas chinesas, porém, ainda não recuperaram os níveis de produção anteriores aos da pandemia, causando desabastecimento de insumos

  • Por Samy Dana
  • 24/03/2021 10h00
Divulgação Hyundai HB20 O Hyundai HB20 custa mais barato um seminovo do que um novo de todos os modelos 2021

Existe a tradição no mercado de automóveis de que um veículo, só de sair da concessionária, perde 20% do valor, mas a pandemia está causando um fenômeno curioso. Faltam carros novos no mercado e, com isso, os seminovos se valorizaram, e chegam a custar até mais do que os novos. Dos dez modelos mais vendidos no ranking da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, cinco têm seminovos mais caros do que os 0 km, segundo levantamento da Kelly Blue Book, consultoria do setor automotivo. O Fiat Strada, o comercial leve mais vendido, custa quase R$ 2 mil a mais quando é seminovo do que novo. No T-Cross, da Volkswagen, a diferença passa dos R$ 2 mil, assim como no Chevrolet Onix Plus. O Hyundai HB20 também custa mais barato, além do Chevrolet Onix, em todos os modelos de 2021.

 

Modelo                          0 km           Seminovo     Diferença     
Fiat Strada 2021             79.859          81.725               3,37%
Volkswagen T-Cross      114.385         116.489            2,87%
Chevrolet Onix Plus       78.462          79.565              2,43%
Hyundai HB20               68.498          69.272              2,16
Chevrolet Onix                72.241           73.039             1,83%

 

Parte desse cenário pode ser explicada pela falta de peças no mercado. No começo do mês, dos doze grupos que fabricam carros de passeio no país, GM, Renault, Fiat e Honda foram obrigadas a parar a produção por não conseguirem terminar os veículos. A GM, por exemplo, paralisou por dois meses as atividades nas fábricas de São José dos Campos, no interior paulista, e de Gravataí, no Rio Grande do Sul. A Fiat teve que dar dez dias de férias aos funcionários durante a parada na produção. No começo da pandemia, a maioria das montadoras esvaziou os estoques, ao mesmo tempo em que dava férias aos funcionários devido às medidas de isolamento.

Com a retomada da economia, a partir do segundo semestre do ano passado, a produção também foi retomada. Só que a demanda surpreendeu. Muita gente passou a querer um carro para escapar do risco de contaminação no transporte público, levando ao aumento no número de pedidos, mas as fábricas chinesas ainda não recuperaram os níveis de produção anteriores aos da pandemia, causando desabastecimento de insumos, um problema que afeta outras indústrias, como a de eletrônicos. Também há os problemas do transporte marítimo. Atualmente, faltam contêineres no mundo, e navios para o transporte direto de mercadorias da China para o Brasil, o que contribui para atrasar a produção. Resultado: a desorganização do mercado, e algumas lições para o futuro. A indústria de automóveis costuma trabalhar com estoques baixos para evitar custos, mas o momento atual mostra que há riscos, e que ter algum estoque pode encarecer os custos. Mas sai mais caro ainda deixar de produzir.

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