Economia brasileira deve crescer mais que o esperado neste ano, mas, sem reformas, ficará atrás de quase todo o mundo

Projeção para o PIB brasileiro salta de 2,7% para 3,7%, segundo a OCDE; no entanto, campanha de imunização precisa ser acompanhada de ajuste fiscal e mudanças estruturais

  • Por Samy Dana
  • 11/03/2021 08h00 - Atualizado em 11/03/2021 12h37
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 04/02/2021 Rodrigo Pacheco e Paulo Guedes conversam em palco montado para entrevista coletiva O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, fecharam acordo para aprovação da reforma tributária

O avanço da vacinação contra a Covid-19 no mundo trouxe uma boa notícia para o Brasil. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia brasileira vai crescer 3,7% no ano. Mas também trouxe uma má notícia: o Produto Interno Bruto (PIB) deve subir menos do que a média mundial. Em dezembro, a projeção da OCDE para o PIB era de alta de 2,7%. O aumento nas expectativas acompanha um cenário mais otimista para a economia global. Antes, era previsto crescimento de 4%. Subiu para 5,6%. Mudanças também para 2022. O Brasil deve crescer 2,7% em vez de 2,2%. Para a economia mundial, a previsão passou de 3,7% para 4%.

Mas há um desafio: o ritmo das aplicações. É consenso entre economistas e governantes que a vacina vai determinar a recuperação em cada país. Países com maior número de vacinados terão menos chance nos próximos meses de novos surtos de Covid-19 e novos fechamentos da economia, assim como do surgimento de novas variantes do coronavírus, como a de Manaus. Por isso, o alerta da economista-chefe da OCDE, Laurence Boone: quem não vacinar rapidamente a sua população vai correr o risco de prejudicar a recuperação e o efeito das medidas de auxílio. Isso vale para o Brasil, que injetou mais de R$ 500 bilhões na economia em 2020, mas também para a Europa, onde a distribuição lenta de vacinas entre os países atrapalha as campanhas de imunização.

Se a vacinação não for acelerada, como alerta a OCDE, o dinheiro poupado pelos consumidores durante a crise – mais de R$ 100 bilhões só no Brasil – correrá o risco de continuar no banco. Sem a certeza de que a vida vai voltar ao normal, as pessoas vão gastar menos. Se gastarem. Mas não parece ser o caso. As duas maiores economias do mundo têm previsão de forte crescimento no ano. Nos Estados Unidos, de 6,5%. E na China, de 7,8%. Os números ainda não levam em conta a decisão do governo chinês, anunciada na semana passada, de reduzir o crescimento para 6%, diminuindo também os estímulos à economia.

PIB no mundo (2021)

  • Índia +12,6%
  • China +7,8%
  • Estados Unidos +6,5%
  • França +5,9%
  • Reino Unido +5,1%
  • Argentina +4,6%
  • México +4,5%
  • Brasil +3,7%
  • Alemanha +3%
  • Japão +2,5%

Mas, para os brasileiros, resta um dado a pensar. Mesmo com a alta revisada, o crescimento fica abaixo da queda do PIB em 2020, de 4,1%. E, entre as principais economias do mundo, o Brasil deve ter um dos menores crescimentos. Só a Alemanha (3%) e o Japão (2,5%) ficam atrás. Efeito da queda das economias ter sido mais forte na França, Reino Unido e outros, mas também da nossa situação fiscal e da falta de uma agenda de reformas. É preciso vacinar mais rapidamente. Os problemas na economia vêm de antes da pandemia. E podem pesar sobre a recuperação.

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