Fim do congelamento no preço de aluguéis deixa conta para inquilinos em Berlim

Um ano e dois meses atrás, a prefeitura da cidade alemã, uma das mais buscadas por jovens europeus para viver, congelou os valores até 2025 nos apartamentos mais antigos

  • Por Samy Dana
  • 19/04/2021 20h44 - Atualizado em 19/04/2021 22h01
Jonas Tebbe/Unsplash Vista panorâmica da cidade de Berlim Em Berlim, 85% da população vive em imóveis alugados

Fazer cortesia com o chapéu alheio, como diz aquele ditado antigo, pode sair caro. Que o digam os moradores de Berlim. Um ano e dois meses atrás, a prefeitura da cidade alemã, uma das mais buscadas por jovens europeus para viver, congelou os aluguéis. Foi uma medida para resolver uma reclamação dos moradores. Com a invasão de estrangeiros e também de alemães de outras regiões, morar em Berlim estava caro. A cidade, ainda hoje conhecida pelos preços convidativos na comparação com outras europeias, de repente viu os aluguéis subirem diante da demanda em alta. Numa cidade onde 85% da população vive em imóveis alugados, o grito foi grande.

Pressionada, a prefeitura aprovou uma lei congelando até 2025 os aluguéis dos apartamentos mais antigos. A internet aplaudiu, os inquilinos apoiaram, mas, ao completar um ano, a lei tinha levado a uma queda de 77% na oferta. Os preços dos aluguéis caíram 11%, só não tinha apartamento para alugar, exceto entre os mais novos, com preços mais altos, pois estavam fora da lei e com demanda maior. A pequena fábula alemã sobre a lei da oferta e da procura terminou na última quinta-feira, 15, quando o Tribunal Constitucional da Alemanha anulou a lei, alegando que os imóveis são regulados pelo governo alemão. Os preços devem subir. E pior: com a decisão, 1,5 milhão de locatários podem ser obrigados a ressarcir os donos dos imóveis com o valor que deixaram de pagar por um ano, beneficiados pela lei agora derrubada.

A Deutsche Wohmen, empresa de locação dona de dezenas de milhares de imóveis na cidade, disse que vai cobrar a diferença. Mesmo que não ocorra uma cobrança generalizada, os aluguéis da cidade tendem a se adaptar novamente à demanda, o que levou uma multidão de berlinenses a cobrar que o governo alemão congele os preços nos moldes da lei da cidade. Mas a resposta do Ministério da Economia foi óbvia: os aluguéis só ficaram caros em Berlim porque há falta de novas moradias, principalmente nos bairros mais centrais e mais conhecidos, os preferidos dos novos habitantes. Existe um excesso de regulação e falta de espaços para construir nos bairros mais procurados, como em qualquer outra grande cidade. Mas a lei, penalizando os proprietários, não promoveu o contrário do que pretendia: ficou muito mais difícil achar um lugar para viver na cidade. Boas intenções não garantem uma boa ideia. Existe um problema de aluguéis em Berlim e em muitas grandes cidades. Mas não é o congelamento que vai resolver.

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