Samy Dana: Netflix passou a TV a cabo por ser mais inovadora

São 17 milhões de assinaturas da Netflix no país, o segundo maior mercado depois dos Estados Unidos, com 60 milhões. No mundo todo, são 193 milhões. Número que supera o de assinantes de todas as empresas de TV a cabo por aqui juntas, de 15 milhões

  • Por Samy Dana*
  • 31/08/2020 12h12
Divulgação/Netflix Netflix já tem mais assinantes no Brasil que a TV por assinatura

Seria difícil pensar em alguns hábitos de lazer hoje, como assistir a uma série ou estar por dentro do documentário da moda, sem a Netflix. A plataforma de streaming mudou a forma como as pessoas se divertem com programas que antes eram mais característicos da TV. E agora começa a tomar o lugar dela. Pelo menos da TV por assinatura. O Brasil já tem mais assinantes da Netflix do que de TV a cabo, segundo levantamento da Bernstein, consultoria de Wall Street. Veja abaixo:


São 17 milhões de assinaturas da Netflix no país, o segundo maior mercado depois dos Estados Unidos, com 60 milhões. No mundo todo, são 193 milhões. Número que supera o de assinantes de todas as empresas de TV a cabo por aqui juntas, de 15 milhões. Para a consultoria americana, a razão é econômica. Com uma assinatura que custa pouco acima de R$ 20, é mais atrativo pagar pela plataforma do que gastar quatro vezes mais com troca de um monte de canais que ninguém está muito disposto a assistir na TV. Esse fator certamente pesa. Mas não dá conta do porquê da Netflix ser hoje a maior plataforma de streaming do mundo. Os brasileiros não estão sozinhos, a queda no público da TV a cabo também ocorre em países ricos, onde o custo da TV pesa menos. Provavelmente não foi só o preço que atraiu 193 milhões de assinantes em todo o planeta, segundo os números da própria empresa. Até porque em vários serviços a cabo a própria Netflix já faz parte do menu de opções para os assinantes.

A história da Netflix há mais de vinte anos reflete a preocupação de usar dados para saber o que as pessoas querem e inovar para atender esses gostos. Quando era apenas um serviço de assinatura e locação de DVDs pelo correio, no ano 2000, passou a usar big data – metadados ou grandes volumes de informação – e ferramentas de análise, para identificar os filmes que cabiam nos gostos de cada cliente, fazendo indicações. Resultado: atraiu 4 milhões de assinantes. Já como empresa de streaming, no fim da década passada, foi a primeira a estar presente em todas as plataformas. Mais tarde, passando a produzir suas próprias obras, a Netflix foi capaz de enfrentar estúdios de cinema e de TV, que dominavam a paisagem, usando algoritmos para adivinhar o que as pessoas tendem mais a assistir em dado momento. E produzindo o programa que elas querem ver.

Já é famosa a história da série “House of Cards“, criada porque o algoritmo captou que um grande número de assinante era fã ao mesmo tempo do hoje quase esquecido ator Kevin Spacey, então no auge da fama, e do diretor David Fincher. A trama política unindo os dois foi o primeiro sucesso próprio da plataforma. Hoje a Netflix gasta US$ 20 bilhões por ano produzindo conteúdo. Também deve ser creditada à plataforma o hábito de lançar uma temporada inteira, com todos os episódios de uma vez, não um a cada semana, como era o modelo de estreias. Outro sucesso de público. Como cada inovação da plataforma, serviu para conquistar novos consumidores. E a Netflix não se acomodou em apenas oferecer algo para ver na tv. Em vez disso, mudou a forma como vemos TV .

*Samy Dana é economista e colunista na Jovem Pan.

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