Os gastos do governo estão aumentando os juros da dívida pública

Taxas de juros futuros dispara, e Governo pagar mais caro para conseguir dinheiro emprestado

  • Por Samy Dana*
  • 21/09/2020 07h00 - Atualizado em 21/09/2020 07h13
Marcos Santos/USP Marcos Santos/USP Taxas de juros futuros dispara, e Governo pagar mais caro para conseguir dinheiro emprestado

Na disputa entre compradores e vendedores, o Ibovespa, principal índice da B3, tem vivido ao longo de semanas um cabo de guerra em que as forças meio que se equivalem. Um dia a bolsa sobe. No outro, cai. As altas e os recuos na semana acabam sendo pequenos diante do equilíbrio de forças. O que pode sinalizar para alguns que no fim das contas a situação dos gastos públicos do governo, que aparentemente tem mobilizado a bolsa, não preocupa tanto assim. Existe, no entanto, um campo onde as indefinições sobre as contas públicas reverberam mais forte: os juros futuros. As taxas dispararam na sexta-feira. Um cenário que vem fazendo o Governo pagar mais caro para conseguir dinheiro emprestado.

Juros futuros
Jan. 2022 – 3%
Jan. 2023 – 4,42%
Jan. 2025 – 6,34%
Jan. 2027 – 7,31%

Na sexta, os juros para janeiro de 2022 subiram 19 pontos. Para 2023 e 2027, a alta foi de trinta pontos enquanto para 2025 foi de 32. Proporcionalmente, é como se os juros tivessem subido entre 5% e 7%. O aumento repercute as dúvidas do mercado financeiro sobre a capacidade do governo de manter as contas públicas sob controle em um momento em que os gastos públicos aumentaram para conter os efeitos da epidemia de covid-19. Em outras palavras, com mais gastos, aumenta a chance de calote na dívida. E com mais risco os compradores dos títulos públicos exigem um prêmio maior para emprestar dinheiro. Prêmio que começou sendo cobrado nas Letras do Tesouro Nacional – LTNs, mas já passou para as Letras Financeiras do Tesouro – LFTs e para os títulos do Tesouro IPCA.

É um movimento que só não tem sido mais forte porque na semana passada o governo diminuiu a emissão de títulos na comparação com as anteriores. Sinalizou, no entendimento do mercado, que não precisa tanto de dinheiro no momento. Mas a subida forte na sexta-feira também deixou claro que as preocupações continuam. E também que houve uma mudança no foco dos investidores. Com as reformas andando devagar e com o aumento de gastos, que já passa de R$ 800 bilhões com a covid-19, o mercado deixou de lado a preocupação com a inflação, olhando para as contas públicas. E pela subida dos juros dá para sentir que não está gostando do que viu.

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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