Ainda não é hora de permitir a circulação sem máscaras em ambiente aberto

O tão sonhado ato de ‘cara limpa’ em espaços ao ar livre deve ser recomendado apenas quando mais de 80% da população tiver recebido a vacinação completa

  • Por Sergio Cimerman
  • 01/11/2021 16h26 - Atualizado em 02/11/2021 14h06
Marcos Porto;Agência o Dia/Estadão Conteúdo - 27/10/2021 Andam em uma calçada um home usando boné e máscara, uma mulher loira sem a proteção e, entre eles, outra mulher com a maior parte do corpo encoberta Apenas 1% dos municípios brasileiros já desobrigou uso de máscaras

A propagação de fake news continua a ser imperativa em nosso meio. Em sua live semanal do dia 21 de outubro, o nosso presidente da República, Jair Bolsonaro, reverbera informações desconexas da realidade e sem embasamento científico. Coloco aqui os dados precisos, porque canais do YouTube e do Facebook retiraram do ar pela gravidade do que foi falado. O mandatário revela que a vacina da Covid-19 pode causar a Aids em quem fizer uso. Sinceramente, não sei de onde poderia ter tido tal informação. Vivemos um momento ímpar no Brasil: a vacinação realmente avança, tanto na primeira dose como na segunda, em todos os Estados brasileiros. Assim, as sociedades médicas não poderiam se calar diante de tamanha mentira, e soltaram nota informativa emergencial. A Sociedade Brasileira de Infectologia desmentiu tal fala, assegurando à população a eficácia da vacina e esclarecendo que ela não apresenta tal efeito adverso. Na sequência, a Sociedade Paulista de Infectologia e a Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro reforçam a mesma linha de pensamento e orientaram a população sobre a verdade dos fatos.

Existe um Ministério da Saúde, como consultor técnico ao presidente, que, com toda segurança, não foi consultado. Se fosse, não iria permitir essa fala bisonha – alvo de piada no mundo todo. O Ministério da Saúde tem, inclusive, apoiado a vacinação da Covid-19 com força e incentivado a comissão de assessoramento científico com reuniões semanais, propondo avanços em todos os sentidos em diversas frentes, como na vacinação em 2022, na intercambialidade de vacinas e nas verificações dos efeitos adversos.

Estamos voltando aos poucos, recuperando a economia que estava em frangalhos, com a abertura de vários setores. Vamos caminhar para a flexibilização com segurança, mas não podemos ter disseminação de falas falsas neste momento. Querer tirar as máscaras agora me parece outra falácia neste momento. Com o avanço da vacinação completa, acima de 80% da população, poderemos permitir o tão sonhado ato de “cara limpa” em espaços abertos. Porém, em ambientes fechados, é preciso esperar mais. Já observamos exemplos claros de países como Israel, Reino Unido e outros que tiveram aumento de casos ocasionado pelo relaxamento total das máscaras

A serenidade nas atitudes só irá beneficiar a todos. Vamos conviver com as máscaras por mais um tempo, pensando em um coletivo e não no individual. Assim se faz saúde pública pensada e correta. No próximo ano, teremos informações mais completas do comportamento das vacinas no tocante a sua periodicidade, o que irá ajudar no planejamento. Quem sabe apareçam propostas de vacinas combinadas de Covid-19 e vírus influenza? Seria o melhor dos mundos – como também as vacinas nasais e por aí afora. A ciência não para. Devemos acreditar nela e em quem as faz. Propalar e acreditar em informações falsas nos leva a dar passos para trás e a não sermos reconhecidos por uma nação séria.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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