Fim da emergência em saúde pública relacionada à Covid-19 pode ser um tiro no pé

População vai entender equivocadamente que a pandemia acabou, muitos deixarão de fazer o teste e remédios próximos da liberação poderão ser deixados de lado

  • Por Sergio Cimerman
  • 19/04/2022 13h26 - Atualizado em 19/04/2022 16h36
Myke Sena/MS - 18/04/2022 O ministro Marcelo Queiroga de perfil, vestindo colete, passando em frente a uma parede onde está escrito o nome Ministério da Saúde O ministro Marcelo Queiroga anunciou no último domingo, 17, o fim do estado de emergência por Covid-19

Esta semana começou agitada com a situação da Covid-19 no Brasil. A despeito da queda expressiva do número de casos, internações e óbitos, fruto da campanha de vacinação, fomos informados em cadeia nacional, pelo nosso ministro da Saúde, o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin). É nítido que o cenário epidemiológico está favorável, mas isso pode ser um tiro no pé de um trabalho construído com a vacina. A população vai entender que a pandemia acabou, o que, na verdade, não condiz com a realidade. Uma pandemia só termina quando a OMS assim determinar. 

Muitos deixarão de procurar o teste diagnóstico e vários casos não serão comunicados. O maior impacto recairá nos fármacos que apresentam status de uso emergencial no país e que estão em fase de incorporação ou aprovação pela Conitec. Mesmo que a lei configure 90 dias a um ano para permanecerem nesta situação, ficará uma insegurança. Justo neste momento em que estamos próximos de usarmos remédios realmente efetivos em casos leves, moderados ou graves. Vivemos perdendo tempo na pandemia, mostrando o não benefício clínico de cloroquina e seus derivados, ivermectina e por aí afora. 

Em relação às vacinas, a Coronavac poderá sofrer impacto relevante, e isso vai prejudicar nossas crianças, visto a sua aplicabilidade em faixa etária dos pequenos e com nível de segurança excelente. Temos de caminhar e nunca esmorecer frente ao Sars-Cov-2. Possibilidade de novas variantes existe, sim. Neste momento, a variante que toma conta é a B.A.2, mais transmissível, porém menos letal. Até quando será assim? Não sabemos realmente. Vamos conviver com este vírus como fazemos com os outros. A ciência irá oferecer respostas rápidas, sempre pela seriedade no campo da pesquisa.

Precisamos investir nas populações vulneráveis. Já notamos que a vacina é menos efetiva onde temos maior mortalidade. Apesar de oferecer duas doses de reforço, ficamos preocupados e reticentes. A boa notícia é que poderá existir droga para prevenção, com redução de risco acima de 80%. Isto é maravilhoso. Dose única. A questão será o custo. O governo federal deverá criar critérios e demandas de aplicação. Em casos leves, os antivirais já utilizados em muitos países devem ser incorporados a nosso rol de terapia. Sonho chegando. Devemos apenas usar com parcimônia e com tradução de benefício aos pacientes. Drogas orais por máximo cinco dias de tratamento, o melhor dos mundos. Fazendo um balanço nestes dois anos já vividos, estamos a melhorar em tudo. Com a ajuda de todos, sobretudo da ciência. Sem ela, nada disso seria realidade. Parabéns a seriedade de todos envolvidos até aqui. Vamos seguir unidos e atentos à Covid-19. Vamos vencer!

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