Vera: Bolsonaro mostra que não gosta de notícia ruim

  • Por Jovem Pan
  • 01/08/2019 08h07 - Atualizado em 01/08/2019 08h39
Marcos Corrêa/PR Ministro e presidente precisam apresentar solução para o problema, não basta apenas apontá-lo

Depois de passar cerca de duas semanas descredenciando os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, haviam prometido uma “surpresa” para esta quarta-feira (31): iriam provar que números divulgados pelo órgão estavam errados e manipulados.

Apesar de terem continuado os ataques ao Instituito, ao contrário do que disseram, ambos acabaram admitindo, ontem, que houve, sim, um aumento exponencial no desmatamento (40%) entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho deste ano. A medição, feita pelo sistema Deter, não é a mais precisa – essa é feita pelo Prodes, ao final do ano – mas se aproxima em pelo menos 82% do resultado do real, diferentemente do que disse Bolsonaro, que continua colocando em dúvida uma série história importante para o país.

Ao tentar descredibilizar os dados do Inpe, Bolsonaro faz uma aproximação com a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner que, como ele, sempre mostrou que não gosta de receber notícia ruim. Ao invés de trabalhar para mudar a realidade dos números e mostrar projetos e soluções concretas, Kirchner começou a rever dados, números e instituições para que ficassem de acordo com seu interesse – e o presidente do Brasil está começando a seguir a mesma linha. Caso ele não goste, está errado e é preciso rever.

Vale lembrar que os sistemas Deter e Prodes nasceram, respectivamente, em 1988 e em 2004, então também não tem relação nenhuma com um possível petismo, pelo contrário: foram criados durante o governo de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.

A postura do presidente e do ministro colocam em xeque não só os dados importantes para o Brasil, mas também acordos recém feitos com outros países, que normalmente tem normas rígidas sobre as questões ambientais, como o novo Mercosul-União Europeia.

Bolsonaro e Salles precisam entender que, antes de contestar um dado, é preciso provar isso – o que os dois não fizeram. Além disso, a dupla também precisa ter consciência de que esses números não são coisa de ambientalistas, hipes e pessoas com camisetas “Chico Mendes vive”. É um assunto sério, com consequências econômicas graves e que precisa ser tratado com seriedade.

Vale lembrar que, mais importante do que rebater e criticar números é propor o que fazer para driblar o problema. Qual será a estratégia do ministério para conter o desmatamento? Qual será, então, o novo método de medição? Assim como em todas as outras áreas do governo, tirando o Ministério da Economia, as pastas tem grande dificuldade e demora para reagir quando os dados vão mal. É fácil contrapor sem um projeto.

 

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