O impeachment não possui nada de traumático, além de ser previsto na Constituição

  • Por Jovem Pan
  • 22/10/2015 17h30
José Cruz/Agência Brasil - 01.01.2015 Dilma Rousseff de costas

Por que no dia em que o PSDB vai ao presidente da Câmara tentar abrir um processo de impeachment contra Dilma, o seu mais ilustre militante, FHC, nega-lhe apoio ao dizer a empresários que não adianta mudar só a Dilma, mas que é preciso alterar toda a estrutura de poder na República brasileira?

FHC é o militante mais bem sucedido do PSDB, porque é o único que foi presidente da República, e duas vezes. É o unico brasileiro que ganhou duas eleições presidenciais sem ir ao segundo turno.

Lula, muito mais popular do que ele, não conseguiu isso, nem nas próprias eleições, nem nas duas que ele elegeu Dilma. Além disso, como ministro da Fazenda de Itamar Franco, ele fez o Plano Real, que é a maior revolução social da história do Brasil.

No entanto, nesta quarta-feira, no dia em que o PSDB, principal partido de oposição, ia à Câmara para tentar abrir um processo de impeachment contra Dilma, ele desautorizou o seu partido, dizendo, numa palestra, que não adiantava tirar só a Dilma, e que era necessário mudar a estrutura política do Brasil.

Em primeiro lugar, eu quero discordar diretamente de FHC. A crise terrível em que nós vivemos, com mais de 1 milhão de desempregados em 12 meses, empresas fechando, que gera crise política, e que, a partir de uma crise moral, vai gerar possivelmente uma crise institucional… Depende da saída de Dilma.

Se tirarmos Dilma da presidência, o governo que entrar no seu lugar tiver juízo e fizer uma composição nacional, ganha uma credibilidade que ela não tem, pelas pataquadas e pelas pedaladas que ela praticou. FHC não é obrigado a concordar comigo nisso, mas não precisa também entrar nessa conversa furada de que impeachment é traumático.

Impeachment tem uma figura prevista na Constituição e, além de não levar em conta essa história de golpismo, do PT e da Dilma, eu também não levo em conta a teoria do trauma.
Em uma entrevista recente que foi ao ar segunda-feira no Roda Viva, na TV Cultura, com o ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, eu me opus a ele, quando ele disse a mesma coisa, que o impeachment era traumático. E me opus citando um exemplo histórico.

Fernando Collor foi eleito no ápice de uma grande aprovação popular; seu vice, Itamar Franco, era tido como uma figura folclórica. No entanto, a saída de Collor foi o início da grande revolução do Plano Real com a ascensão de FHC, ministro da Fazenda de Itamar, que substituiu Collor.

Então, vivemos essa estabilidade toda por causa do impeachment. Por que o impeachment, então, é traumático? Eu não quero que FHC se convença de nada disso, porque ele não tem nada que ficar se opondo ao partido dele, até porque não se resolve do dia para a noite uma mudança de estrutura política para o poder no Brasil, por mais que ela seja necessária.

Vá à casa de cada desempregado, e pergunte se ele quer pegar o emprego de volta só depois que FHC e os tucanos modificarem a estrutura de poder no Brasil…

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