Pagador de propina depositou US$ 1,5 milhão na conta de Santana durante campanha eleitoral de Dilma
Como é que é? Se o que a Folha informa nesta quarta estiver mesmo certo, o marqueteiro João Santana vai tentar livrar a cara de Dilma Rousseff e, ora vejam, ferrar um pouco mais a Odebrecht. E, ainda assim, as coisas continuarão mancas. Vamos ver.
Reportagem do jornal informa que o marqueteiro vai admitir, sim, que recebeu recursos irregulares no exterior, mas vai dizer que eles nada têm a ver com o PT. É mesmo, é?
Segundo a força-tarefa da Lava Jato, uma offshore que pertence a Santana e à sua mulher, Mônica Moura, recebeu US$ 3 milhões da Odebrecht e US$ 4,5 milhões do lobista Zwi Skornicki, que também está preso.
Informa a reportagem que Santana vai tentar deslocar a suspeita para outros países onde também atuou como marqueteiro — Argentina e El Salvador, por exemplo. Em ambos, a Odebrecht mantém negócios.
Deixem-me ver se entendi direito. Até agora, essa empreiteira não admite ter participado do petrolão ou feito pagamento de propina. Santana endossaria, então, essa versão para livrar a cara do PT, mas levantaria a suspeita de que, no exterior, a empresa faz o que nega fazer aqui dentro?
Mais: ele próprio, Santana, seria um anjo de correção em solo pátrio, onde seus amigos estão no poder, mas seria tentado a fazer safadezas em países estrangeiros? É isso?
A versão vale uma montanha de US$ 7,5 milhões em notas de US$ 3. Na segunda-feira, o marqueteiro teve decretada a prisão temporária, que tem vigência máxima de cinco dias, podendo ser prorrogada por mais cinco. Nada impede, a depender do andamento da investigação, que se decrete a prisão preventiva, que não tem prazo.
Mas ainda não se falou tudo. Digamos, só para efeito de raciocínio, que parte do dinheiro que Santana recebeu estivesse mesmo ligada a interesses eleitorais que a Odebrecht manteria fora do país… E o que dizer sobre o lobista Zwi Skornicki, que atua é por aqui mesmo? Se a versão caminhar por aí, cairá num ridículo sem-par.
Não duvido da apuração da Folha. Duvido é que Santana fará essa escolha. Até porque restam as questões lógicas. Quem paga propina lá fora não pagaria aqui dentro por quê? Quem recebe grana ilegal em país estrangeiro não o faria em solo pátrio por quê? Vamos ver. Santana pode depor nesta quarta ao juiz Sergio Moro.
Descuido com a imagem
Santana se tornou multimilionário cuidando da imagem alheia. No Brasil e em alguns outros países. Pois é… Casa de ferreiro, espeto de pau. Conta que ao desembarcar da viatura da Polícia Federal, Mônica Moura, a mulher de Santana, teria dito: “Não vou esconder a cara”.
A não ser pelos óculos, não tentou mesmo. Ao contrário até: mesmo com os olhos protegidos, ela realmente parecia senhora de si. E talvez tenha exagerado. Mônica mascava chicletes, com ar descontraído, quase nonchalance, como se participasse de algum evento cotidiano.
Santana conseguiu mudar o ar arrogante da Dilma candidata. Parece não ter tido tempo de ter uma palavrinha com sua mulher sobre marketing pessoal…
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