Quando o autoritarismo, a arrogância e a incultura política são temperados pela burrice
Sim, eu sei que eles são autoritários. Mas o autoritarismo só sobrevive quando, a seu modo, é eficiente.
Sim, eu sei que eles são arrogantes. Mas, de novo, a lei da natureza, mesmo a da natureza da sociedade, impõe que a arrogância sobreviva porque, a seu modo, eficaz.
Sim, eu sei que eles são politicamente incultos. Mas essa incultura tem de se mostrar produtiva, ao menos num prazo curto e médio, para que continue a dar as cartas.
Pois é… O autoritarismo, a arrogância e a incultura no governo Dilma não estão dando em nada. Ao contrário: os desastres vão se multiplicando. Ainda assim, eles insistem. Ainda assim, eles reiteram. Ainda assim, ele repetem exaustivamente as mesmas tolices.
Já escrevi aqui a respeito, mas a minha inquietação não cessa. Quem foi o gênio que convenceu a presidente Dilma de que era o caso de arguir a suspeição de Augusto Nardes, relator no TCU das contas do governo relativas a 2014? Quem sugeriu esse caminho imaginava o que depois do fígado, da bile? Qual era o passo seguinte ao ódio? Que objetivo tinha o governo além de ganhar tempo?
A incompetência do governo chega a ser assombrosa. E olhem que a presidente já estava sob os auspícios dos novos coordenadores políticos, a saber: Jaques Wagner e Ricardo Berzoini. Teriam sido eles a convencer a governanta sobre a conveniência de acusar a suspeição de Nardes? Ou também essa foi uma boa ideia que lhe foi cochichada por Aloizio Mercadante?
Ora, vai acontecer o óbvio — é um jogo de perde-perde. É evidente que a corregedoria do TCU dirá “não” ao Planalto. O caminho seguinte é apelar ao STF. Digamos que houvesse uma vereda para a interferência da corte suprema — não vejo como. Um outro relator na casa se obrigaria a repetir o relatório do seu confrade — de resto, o próprio Luís Inácio Adams afirmou que, do ponto de vista técnico, não tem reparos a fazer.
Então pra quê?
Esse é um governo que quer durar? Que pretende ficar mais três anos e três meses no poder, contra as evidências da Lei 1.079, contra a vontade quase 70% da população (66%, segundo as pesquisas mais recentes), contra a sua própria história?
Um mínimo de prudência recomendaria que não se mexesse com o TCU, que se deixasse que o relatório negativo do tribunal fosse para o Congresso e que, no Legislativo, sim, o Planalto procurasse ganhar adesões.
Por que diabos uma gestão quase moribunda compra uma briga como essa, que não tem como ser vencida?
Tenho uma hipótese: quando ao autoritarismo, à arrogância e à incultura se junta a burrice, aí já não há mais nada que possa ser feito.
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