Sindicato de Jornalistas se omite sobre frase infeliz de Tatto

  • Por Jovem Pan
  • 18/06/2015 12h58
José Cruz/Agência Brasil Partido reforça apoio nas periferias para disputar espaço com outras siglas da esquerda

Reinaldo, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo te surpreendeu?

Não, só me surpreenderia se fizesse a coisa certa. Como fez a coisa errada, então está tudo dentro do previsto.

Entrei na página do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo para ver se havia lá ao menos uma moção de repúdio à fala de Jilmar Tatto, secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo e deputado licenciado do PT. Por quê? Antes do início de uma entrevista coletiva nesta terça, ao ver repórteres da Folha e do Estadão, Tatto ironizou: “Ué, Folha e Estadão ainda mandam repórteres para a pauta? Vocês não foram demitidos?” Achou que o gracejo era pouco e sugeriu que, caso perdessem o emprego, que o procurassem. A dupla riu amarelo. Se os dois veículos noticiaram a coisa, não achei. Adiante.

Não! O sindicato não publicou uma linha a respeito. Calou-se com a covardia habitual quando o assunto é prejudicial à reputação dos companheiros. No congresso do PT, Lula já havia feito pouco caso das empresas de jornalismo e dos próprios jornalistas. Ao defender a doação de pessoas físicas ao partido, disparou: “Se nós não doarmos, quem vai doar? Os tucanos? Os jornalistas, que ganham pouco e estão perdendo o emprego?”.

Ah, sim: entro na página no sindicato e vejo lá uma manifestação marcada contra demissões, tudo vazado naquela linguagem de baixo jacobinismo, que exaspera os moral e eticamente civilizados. Ok, acho razoável que se proteste e coisa e tal, mas qual é o pressuposto? Que as empresas demitem por gosto? Que o fazem por prazer? Com o simples intuito de lucrar mais? Os companheiros sindicalistas ainda não aprenderam que as empresas estão lucrando mais é quando contratam em massa, não quando demitem? Não! Eles não aprenderam porque, para tanto, é preciso ao menos ser jornalista e saber fazer conta. Gente que vive pendurada em aparelho sindical não tem tempo para a economia e para a matemática. Ademais, sabem como é, eles são todos socialistas, não é mesmo?

O silêncio evidencia o mal que faz um sindicato estar aparelhado por um partido. À medida que um mesmo ente manda no país, na cidade e na entidade sindical, todos se subordinarão a esse ente de razão: o PT passa a ser mais importante do que o Brasil, a cidade ou a categoria profissional. Tudo será feito em benefício dessa máquina. Todos aos atos serão avaliados como úteis ou prejudiciais apenas na medida em que servem ou que não servem ao partido.

Tivessem tais agressões saído da boca de políticos ditos “conservadores” ou “de direita”, a gritaria seria imensa. C0mo, afinal, se trata dos companheiros Lula e Tatto, é claro que nada foi por mal. Vai ver eles estavam até tentando defender os jornalistas – a seu modo, claro!

As escolhas econômicas do partido de Lula e Tatto desempregam hoje milhões de trabalhadores. A GM, por exemplo, paralisou a sua produção. A Fiat pôs nesta quarta em férias coletivas 12 mil trabalhadores da fábrica de Betim, em Minas Gerais. A recessão está parando o país, como é visível. Lula e Tatto acham graça quando isso afeta os jornalistas porque já não os consideram bons companheiros – aqueles bons companheiros que ajudaram, no passado, a fazer a fama e, se me permitem, a fortuna dos atuais petistas.

E há uma razão adicional para o sindicato não dizer nada: a exemplo dos petistas, a turma também não gosta das empresas de comunicação e da imprensa independente.

Não é que eu os respeitasse muito antes. Mas respeito ainda menos agora. Detesto gente covarde.

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