Filiações de Moro e Dallagnol colocam a Lava Jato novamente no cenário político brasileiro

Especialista acredita que inflação e desemprego devem ser os temas centrais durante as eleições de 2022, o que pode dificultar a candidatura à Presidência do ex-juiz

  • Por Jovem Pan
  • 25/12/2021 09h27
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO CONTEÚDO Sergio Moro e Deltan Dallagnol Sergio Moro e Deltan Dallagnol se filiaram ao Podemos

Muito falado o partido da Lava Jato começa a tomar forma com as entradas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol oficialmente para a política. Desde que os dois integrantes da Lava Jato anunciaram que iriam se filiar ao Podemos, a operação voltou a ser tema central no cenário político brasileiro. Deltan e Moro surgem como duas das principais novidades para as eleições de 2022 e o combate à corrupção, talvez a pauta mais importante no pleito presidencial de 2018, volta a ser manchete. O nome mais polêmico, claro. é o de Sérgio Moro. O ex-juiz tanto ataca como é atacado pela esquerda e pela direita e é apontado como a terceira via viável. Mas será que o legado da Lava Jato é capaz de criar um Presidente da República? Moro acredita que sim.

“O maior potencial de êxito contra esses dois extremos é o nosso projeto. Então a aglutinação, em princípio, teria que se dar dessa forma. Mas vamos ter a humildade necessária, aguardar o momento em específico. A gente quer seguir com crescente confiança, mas não vamos deixar de lado a humildade. Nós precisamos deixar os outros potenciais candidatos apresentarem seus nomes, apresentarem suas propostas, tentarem construir o seu caminho”, afirmou Moro. Inexperiente na política e prestes a disputar uma eleição com o ex-presidente da República e com o atual mandatário do país, o ex-juiz defende que o mais importante agora é fugir dos extremos. “O principal desafio nosso é construir um projeto consistente e falar da nossa candidatura. Agora é uma pré-candidatura, nós temos que convencer o eleitor da robustez da nossa proposta e da nossa credibilidade. Para isso, nós temos que, eventualmente, discutir um pouco do passado, porque há alguns questionamentos, mas tenho total tranquilidade para explicar tudo aconteceu. Eu tenho orgulho tanto do meu trabalho na Lava Jato como no Ministério da Justiça, mas eu acho que o essencial aqui é a gente poder discutir propostas, soluções para o país, porque o brasileiro quer basicamente um governo que melhore a vida dele e que não atrapalhe”, argumentou.

Último a anunciar a entrada na política, Deltan se duz descontente com o legado da Lava Jato. “Ao longo da Lava Jato, várias vezes as pessoas me perguntaram: ‘Deltan, você não quer ir para um cargo político?’. Eu recebi vários convites, mas a minha resposta sempre foi: ‘Enquanto eu conseguir alcançar a justiça, responsabilizar corruptos e recuperar bilhões, eu acredito que o melhor que eu possa oferecer para sociedade é por meio do meu trabalho na Lava Jato’. O que aconteceu ao longo dos últimos anos foi que houve uma reversão nesse quadro. Hoje, depois de várias decisões do Supremo Tribunal Federal que minaram o combate à corrupção, depois de atos do Congresso Nacional que mudaram as leis, não só a gente não consegue mais recuperar bilhões, não só a gente não consegue mais responsabilizar corruptos e poderosos, mas o próprio trabalho que a gente fez hoje está sendo desconstruído”, lamentou Deltan.

O ex-procurador-chefe da operação acredita que chegou o momento de tentar continuar o trabalho de combate a corrupção agora no Legislativo. “É lá que é o principal palco junto com o Supremo Tribunal Federal da luta contra a corrupção. E mais, se o Supremo Tribunal Federal veda a prisão em segunda instância, o Congresso pode mudar a regra do jogo por meio da votação de uma PEC Então, se nós queremos mudar a realidade, a gente precisa ir para lá. Claro que Deltan sozinho não vai conseguir, mas com um grande número de pessoas conseguirem articular um grande movimento nessa direção, nós podemos”, alegou.

Senador pelo Paraná e um dos nome Legislativo que acompanhou mais de perto a Lava Jato, o companheiro de Podemos Álvaro Dias explicou o que fez Moro e Deltan entrarem para a política. “Esses dois vieram para política exatamente em razão do que ocorreu, desse retrocesso. Ações julgadas, condenações consagradas e vários magistrados foram desconsiderados em uma tentativa de desqualificação. Eles pensaram: ‘Cumprimos a nossa missão aqui, vamos tentar cumprir agora na política’. A política passa a ser a ferramenta para esse enfrentamento da corrupção e certamente vamos continuar essa luta”, completou Dias.

Apesar do otimismo dos lava-jatistas com as candidaturas de Moro e Deltan, os nomes não são unanimidades. O cientista político Alberto Carlos Almeida acredita que o fator Lava Jato não vai ser primordial no pleito de 2022. “O tema mais relevantes que entram o ano de 2022 e que tende a ficar é um tema da combinação de inflação com o desemprego. E, quanto a isso, Sérgio Moro e Deltan, tem pouco ou nada de ver. Vale lembrar que o Podemos é um fenômeno de marketing. É considerado o partido da Lava Jato.  Porém, se você for olhar de perto a vida de alguns líderes importantes do partido, eles não se sustentam em termos de honestidade”, apontou o especialista. Ficou clara a importância da Lava Jato em 2028 com a eleição ao Legislativo de diversos nomes simpatizantes da Operação e a ida de Moro para o governo Bolsonaro. Agora, resta saber se após quatro anos e muitos desgastes a operação ainda segue com prestígio entre os eleitores.

*Com informações do repórter João Vitor Rocha

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