‘Médicos não têm de seguir o que a associação está orientando’, diz presidente do CFM

Mauro Ribeiro afirma que a entidade não tem atribuição legal para determinar quais medicamentos podem ser usados pela população brasileira

  • Por Jovem Pan
  • 25/03/2021 10h34 - Atualizado em 26/03/2021 00h34
Reprodução/Flickr/Conselho Federal de Medicina Presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro, defendeu a união dos entes federativos no combate à Covid-19

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro, criticou, nesta quinta-feira, 25, a Associação Médica Brasileira (AMB) após a entidade recomendar o “banimento” dos medicamentos que compõem o chamado “kit-covid“. Em carta divulgada na terça-feira, 23, a AMB reafirmou que cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina não têm eficácia científica comprovada no tratamento ou prevenção da Covid-19 em nenhum dos estágios da doença. Ribeiro discordou do posicionamento e afirmou que a entidade não tem legalidade para fazer recomendações deste tipo. “Nós somos maior a entidade da medicina brasileira. É a maior entidade reguladora médica do mundo. A nossa responsabilidade é imensa”, disse em entrevista ao Jornal da Manhã. “Quando a Associação Médica Brasileira sai com aquele documento, ela tem todo o respeito da CFM, mas não restam dúvidas de que ela tenta avançar nas questões legais, porque quem tem atribuição legal no Brasil, de determinar o que pode ser usado, ou não, na população brasileira, é o CFM. Quando elas dão uma opinião sobre um assunto, é uma opinião, um posicionamento, mas os médicos não tem que seguir aquilo que eles estão orientando”, afirmou.

Em seguida, o presidente do CFM explicou que a instituição se pauta na Ciência, mas que, por ser uma doença nova, a Ciência ainda não pode garantir se medidas como lockdown são realmente eficientes e declarar se o tratamento precoce não tem eficácia sobre a Covid-19. “Onde está a grande contribuição da Ciência? No desenvolvimento das vacinas e no tratamento de pacientes críticos. O uso de anticoagulantes, o uso de corticoides, a posição crona, a intubação tardia, nós temos avanços. Quanto à fase inicial da doença, por mais que as pessoas digam que existe consenso na literatura em relação ao lockdown, não existe. Não existem estudos que provem que o lockdown tenha efeito melhor do que a proteção dos vulneráveis, uso de máscaras e distanciamento social”, explicou. “Em relação ao tratamento precoce, o que nós questionamos é essa história de que está estabelecido na literatura que o tratamento precoce não tem efeito contra a Covid-19 na fase inicial. Essa argumentação não é verdadeira. Existem trabalhos que mostram o benefício dessas medicações na fase inicial da doença, mas também existem outros que não mostram”, disse Ribeiro, que afirma que o CFM tem uma obrigação legal de analisar toda a literatura que sai no mundo sobre a doença.

‘Não podemos procurar culpados’

Para Mauro Ribeiro, a situação da Covid-19 no Brasil é uma tragédia. “Não é uma fala catastrofista. Em 1.500 anos de existência, nós nunca passamos por uma crise sanitária dessa dimensão”, apontou. “O grande problema que nós temos é a politização em torno da pandemia. Essa pandemia ela não mata no Brasil, ela mata no mundo. Mas, infelizmente, aqui no Brasil há uma insistência por parte da sociedade e por parte da mídia de procurar culpados.” O presidente do Conselho Federal de Medicina acredita que não há culpados: nem o presidente Jair Bolsonaro, nem os ministros que passaram pelo comando do Ministério da Saúde, nem o governador de São Paulo, João Doria, nem o prefeito de São Paulo, Bruno Covas. No momento, ele defende a união entre os entes federativas.

“A única saída que nós temos no momento, a mais plausível, é a vacinação. E o Conselho Federal de Medicina defende veementemente um programa de vacinação em massa no Brasil. E esse programa vai acontecer, porque tem muita coisa a ser enaltecida por parte do governo e por parte do ministro Eduardo Pazuello, que saiu do ministério sob pesadíssimas críticas”, disse. “As críticas são válidas. Nós mesmos criticamos bastante, tanto o ministério quanto o presidente, mas nós não procuramos culpados. Nós procuramos contribuir com os governos dentro das nossas competências legais”, explicou. Segundo Ribeiro, por esse motivo o CFM é taxado de bolsonarista e negacionista. “Simplesmente porque o CFM procura analisar o que acontece no mundo e o que acontece no Brasil. Procuramos encaminhar juntos aos responsáveis e dar sugestões que possam ajudar a população brasileira a vencer esse terrível adversário que nós temos hoje”, justificou. “Nós não temos precedentes na história. A única coisa que aconteceu parecido foi a gripe espanhola, há mais de 100 anos atrás. É a primeira vez na história do Brasil que nos deparamos com um inimigo tão forte quanto a Covid-19”, concluiu.

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