‘Tem muito picareta nas matas da Amazônia’, afirma senador que propõe instalar CPI sobre ONGs

Plínio Valério defende que o Senado investigue como os recursos recebidos do Fundo Amazônia e de outros países vem sendo aplicados pela organizações existentes no território

  • Por Jovem Pan
  • 06/12/2021 10h19 - Atualizado em 06/12/2021 11h06
Roque de Sá/Agência Senado Plínio Valério Senador Plínio Valério (PSDB-AM) acusa ONGs da Amazônia de picaretagem

Em entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã nesta segunda-feira, 6, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) falou sobre sua expectativa de instalação da CPI das ONGs da Amazônia no início de 2022. Com denúncias sobre o trabalho de algumas organizações e acusações de ‘picaretagem’, Valério alega que é necessário investigar para onde vai o dinheiro recebido do Fundo Amazônia e de outros países. Ele destacou que só falta um último passo para a instalação da comissão parlamentar de inquérito e que vem conversando com o presidente do Senado para articular a ação. “A intenção [da CPI] é separar o joio do trigo. Tem ONGs boas, que merecem os aplausos e nossa compreensão, mas tem muito picareta enfiado nas matas da Amazônia. Saber o que elas estão fazendo de verdade, porque essa gente angaria muito recurso em nome da Amazônia e esse dinheiro não chega na conta. Essas pessoas acabam exercendo um policiamento na gente, que não pode fazer nada e eles também não fazem nada, a não ser ficar com o dinheiro. Não estou falando de todas, estou falando da maioria. O que fizeram com o dinheiro do Fundo Amazônia? O que fizeram com o dinheiro que recebem da Noruega, da Alemanha e do Canadá? Na ponta não chega e a gente vai mostrar”, afirmou.

Questionado sobre outros problemas existentes na Amazônia, como desmatamento, grilagem, garimpo ilegal, entre outros, o senador afirmou que essas questões também deve ser seriamente investigadas e que a apuração sobre o trabalho das ONGs não anularia esse trabalho. “Uma coisa não anula a outra. Uma questão é do braço do policiamento, da Polícia Federal, do Exército, que deve investigar. E o nosso [trabalho dos senadores] é investigar para denunciar. No Alto Rio Negro, onde existe a maior reserva de nióbio do mundo, o brasileiro não entra, porque, até outro dia, era uma organização não governamental que tomava conta e fazia o trabalho da Funai. Essa questão do garimpo, por exemplo, é um garimpo familiar que existe há muito tempo. Qual foi o erro deles? Permitir que balsas viessem de fora. A gente tem que coibir, esse é um trabalho do legislativo. Eu não posso chegar no garimpo de arma em punho, [polícia] federal pode. Eu posso investigar, chamar esse pessoal para saber o que eles estão fazendo enfiado na mata”, disse Valério.

Segundo o senador, a CPI vai tentar descobrir quantas ONGs atuam de maneira errada na região, mas ele fala da existência de ‘milhares’. “Há quem fale em três mil, cinco mil, 200 já seria muito. Eu só sei que é infinitamente maior que o número que existe no nordeste. São essas ONGs que usufruem desse dinheiro, arrecadam e difamam a gente. Elas vem para cá para não deixar fazer nada, policiando. Nada é permitido na Amazônia. E quando nada é permitido, tudo pode. Essa desorganização é que a gente quer investigar. Milhares de ONGs na Amazônia, a que é boa demais, outra é picareta. O conselheiro do TCU Vital do Rego tem um levantamento, e eu vou pedir dele quando a CPI estiver instalada, todos os convênios investigados, 85% do dinheiro é gasto entre os diretores da ONG. Acho que o europeu quando dá dinheiro está bem intencionado, mas esse dinheiro não chega na ponta. Esse pessoal tem dinheiro para trabalhar contra a gente. É isso que a gente vai tentar descobrir”.

Ele ainda falou sobre o objetivo de investigar para denunciar e garantir que apenas ONGs que façam a diferença no território amazônico possam continuar atuando. “A hipocrisia que permeia o termo ‘Amazônia’ é que a gente tem que deixar às claras. Precisamos de ajuda, de parceiros. Mas nós sabemos o que fazer. A gente não aguenta mais ter incêndio na Califórnia e na Austrália e queimada na Amazônia, eventos naturais. É muita hipocrisia. A Amazônia é a região mais rica do planeta, mas há muita pobreza. Moram nove milhões de pessoas que não têm acesso a uma cesta básica, morrem mais de mil crianças por ano antes de completar um ano e esse dinheiro, que poderia ajudar nisso, vai para onde? Queremos botar às claras, só falar em nome da Amazônia quem quer o nosso bem. Tem muita coisa boa, mas também tem muita sujeira por debaixo desse pano”, finalizou.

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