Em debate de gerações, Suplicy e Holiday discutem "prazo de validade" de cotas raciais

  • Por Jovem Pan
  • 08/11/2016 12h18
Johnny Drum/Jovem Pan

O Jovem Pan Morning Show desta terça-feira (8) foi palco de um debate de ideias entre duas gerações distintas da política brasileira. Os vereadores eleitos da cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT) e Fernando Holiday (DEM) expuseram suas opiniões sobre pautas que dominam os noticiários do Brasil como a PEC 241 e ocupações escolares. O senhor de 75 anos concordou com o jovem sobre o sistema de cotas e defendeu rever a necessidade da medida a cada 10 anos.

Com uma cordialidade mútua, Suplicy e Holiday discordaram em diversos pontos, principalmente no que diz respeito as ocupações escolares realizadas em diversas cidades espalhadas pelo Brasil, em protesto contra a PEC 241, que limita os gastos públicos no período de 20 anos e também contra a medida provisória que implanta mudanças no ensino médio.

Vereador mais votado do Brasil, com mais de 300 mil votos em São Paulo, Suplicy apoia a ação dos estudantes, desde que não contenham nenhuma manifestação por meio da violência. Ele acredita que protestos pacíficos possuem poder de mudança e citou um caso recente em que o governador Geraldo Alckmin precisou voltar atrás da medida no qual pretendia realocar alunos e fechar algumas escolas.

“Ela é válida, a não ser que não haja violência por parte dos jovens. Nos anos anteriores por outros motivos até, por exemplo, quando o Alckmin tomou medida sem debate prévio para transferir estudantes para outras escolas e fechar outras, houve protestos pacíficos e o governador acabou voltando atrás com essa medida. Eu sou um adepto das lições históricas de Martin Luther King, que conseguiu vitórias históricas sem violência”, opinou.

Já Holiday vê as ocupações por si só como um ato de violência, pois tira o direito de alguns estudantes que não concordam com a ação de prosseguir com seus estudos. Para ele, as assembleias feitas para discutir o assunto são redutos de ideias fascistas, com pensamentos muito perigosos para o futuro.

“Eu sou totalmente contrário. Acho que as ocupações são uma violência. Existem milhares de estudantes que querem ter aula e estudar, mas infelizmente por conta de alguns, não é possível. As assembleias são verdadeiros festivais de fascismo. Tentaram reunir estudantes da UERJ e o resultado foi socos para todo lado e tiveram que chamar a polícia porque pessoas contrárias foram agredidas. Esses são pensamentos muito perigosos e metade dos alunos não sabem o motivo porque estão protestando. O MBL passou pelo Paraná e conversou com quem estava nas ocupações e quase nenhum soube explicar”, contou.

Polícia Militar

Outro ponto interessante levantado pela bancada do programa matinal foi sobre o que os vereadores eleitos achavam sobre as ações da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Enquanto Holiday apontou que em nenhum protesto organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) houve algum tipo de agressão por meio da segurança militar, Suplicy rebateu e indicou que as agressões aconteciam por motivações seletivas.

“Em um protesto organizado pela esquerda, a polícia tomou caixa de isopor de uma senhora que estava vendendo bebidas na Avenida Paulista. Eu entrei contato com o comandante e pedi para que isso fosse reavaliado. Consegui recuperar a mercadoria para a senhora e perguntei para ela se isso tinha acontecido também nos protestos pró-impeachment. Ela disse que não, que ninguém a abordou como aconteceu no protesto contra o impeachment”, relatou.

O político do Democratas vê a questão de violência exclusivamente relacionado aos movimentos de esquerda e questiona se há motivações de mudança ou apenas vontade de implantar baderna e caos nas ruas.

“Eu acho que um dos maiores exemplos foram as manifestações ao qual o MBL fez parte da organização. Fizemos o maior protesto da história em 13 de março de 2016 para manifestar pelo impeachment. Milhões de pessoas foram às ruas no país e em nenhuma delas uma única ocorrência. A polícia não precisou agir contra nenhum dos manifestantes. Isso diz muito sobre as manifestações da esquerda, se são pacíficas ou se tratam-se de cidadãos que querem apenas fazer baderna.”, explicou.

Política de cotas

Fernando Holiday viu o seu nome em alta nas redes sociais ao anunciar que as suas primeiras medidas como vereador seriam em torno do “combate ao vitimismo” e da política de cotas raciais. O político vê a medida como algo que ajuda a aumentar o preconceito e defende um fim dela.

“Não é à toa que os EUA vivem hoje em dia uma de suas maiores tensões. Esse sistema de cotas cria uma nova forma de preconceito, pois dá a entender que os negros estão ganhando cargos apenas por conta da cor de sua pele. Não tem que ser assim, tem que mostrar que todos são iguais”, defende.

Suplicy pensa no assunto de uma forma diferente. Não discordando 100% do seu colega, o petista acredita que o sistema de cotas precisa ser reavaliado de década em década para então, por meio de uma análise social, ver se há ou não a necessidade de continuar com o sistema.

“Perguntaria se ele seria a favor de acabar com as homenagens ao Martin Luther King, já que aqui é homenagem ao Zumbi dos Palmares, que lutou para acabar com a escravidão. Sou a favor que o sistema de cotas seja reavaliado a cada dez anos”, completou.

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