Será que o aumento no número de suicídios tem a ver com escolas "ultracompetitivas"?

  • Por Jovem Pan
  • 08/05/2018 11h35
Johnny Drum/Jovem Pan

Dois alunos do ensino médio de um dos mais tradicionais colégios de São Paulo se suicidaram no início deste ano em um intervalo de quinze dias. Os casos colocaram em evidência na mídia um índice que já vem preocupando especialistas há um tempo: nos últimos cinco anos, o número de jovens de 12 a 25 anos que tiraram a própria vida teve um salto de quase 40%. Na edição desta terça-feira (8) do Morning Show a psicanalista e especialista em neuropsicologia infantil Ana Olmos explicou os fatores que podem ter relação com esse aumento.

Antes de qualquer coisa, a especialista destacou que a questão é complexa e deve sempre ser tratada de acordo com sua complexidade. Não há como colocar a responsabilidade de um ato extremo sob apenas um motivo. Como metáfora, usou a imagem de uma pizza dividida em diversos pedaços. Herança genética, cultura doméstica, maneira de lidar com as situações, vínculos familiares, relação com o mundo externo. Cada um desses fatores representa uma fatia.  Aliados a eles, a “superproteção” dos pais e a “ultracompetitividade” estabelecida nas instituições escolares são outros grandes gatilhos dos dias atuais.

“Quando os pais, para não ver a criança sofrer em hipótese alguma, providenciam tudo que ela quer dentro de casa, ‘seu desejo é uma ordem’, ela sai para fora e vê que a vida não é essa. Se ela não treinou desafios compatíveis à sua faixa etária, se sempre foi tirada do apuro e não arrancou de dentro de si recursos para fortificar sua musculatura emocional, estará vulnerável”, disse.

“Os casos dessa e de outras escolas têm um pano de fundo interessante. Quando os pais, e não quero culpá-los, a sociedade é assim, mas quando é estabelecida uma competição a qualquer custo, isso acaba introduzindo a criança ao medo do futuro. Já vi um pai que colocou um menino de 11 anos para aprender mandarim. O pai era executivo, queria dar condições à criança. O menino odiava. As escolas que representam essa ‘sociedade de ranking’ que vivemos criam uma pressão absurda. O conceito é competição, não cooperação. Dá uma sensação de fracasso”, completou. “Não estou dizendo que a escola causa suicídio. De maneira alguma! Como discutimos anteriormente, existe uma série de fatores”.

Para evitar situações extremas, a conversa continua sendo o melhor caminho. “Tudo começa em casa, essa frase serve para tudo. A atitude da familia é sempre importante. A criança, o adolescente, precisa ter interlocutores em casa. Deve haver uma construção de vínculo desde cedo. Deve-se prestar atenção no que ela tem a dizer (…). O suicídio é uma palavra de não ter esperança. Quando a palavara é escutada, abre-se essa porta”, concluiu a especialista.

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