Rainha de bateria da Tom Maior inspira mulheres mais jovens e sonha com título após ‘perrengue’ no Carnaval passado

Pâmella Gomes é atriz, já dançou no ‘Faustão’, cursa jornalismo e vive sua escola de samba intensamente; ela luta para que festa não perca essência e pelo espaço das meninas que chegam agora

  • Por Jovem Pan
  • 21/02/2023 08h00
Reprodução/Jovem Pan News Fabi Saad e pâmella Gomes sentadas no estudio do Mulheres Positivas Pâmella Gomes (à dir.) foi a convidada de Fabi Saad para a edição de Carnaval do Mulheres Positivas

Quando a Tom Maior entrou na avenida na manhã do último sábado, 19, no Sambódromo do Anhembi, reluziu uma imponente mulher negra de 1,70 m, vestindo uma fantasia vermelha que formava a cabeça de um búfalo. Aos 31 anos, Pâmella Gomes é rainha de bateria da escola de samba há dez e frequenta a quadra desde os 3. “Cada ano uma adrenalina diferente, né, gente? Foi um enredo muito especial, eu completando dez anos de reinado à frente da bateria, minha escola completando 50 anos. Foi um turbilhão de emoções. Foi um desfile maravilhoso, estou muito esperançosa de que minha escola será campeã”, disse Pâmella em um animado bate-papo com a apresentadora Fabi Saad no programa Mulheres Positivas. “Já basta o que aconteceu comigo no Carnaval passado, quando minha fantasia rasgou. Tive que me virar nos 30, sambar no miudinho para não passar por um perrengue maior. Não cheguei a ficar nua, mas era aquela coisa: se eu sambasse um pouquinho mais, iria mostrar o que não pode. Foi um Carnaval tenso, uma experiência diferente de tudo que vivi desde os 3 anos. Já tive Carnavais de tudo quanto é tipo, mas esse foi um perrengue daqueles. Nem sei como eu consegui continuar na avenida sorridente, alegre e sem ninguém perceber que eu passava por aquele problema.”

Multifacetada, a amante do Carnaval contou que dorme “pouquíssimas horas” por dia para conciliar trabalho, projetos e paixões. Pâmella é bailarina — já foi dançarina do “Domingão do Faustão” e hoje trabalha com o grupo de pagode Raça Negra —, formada em artes cênicas, cursa jornalismo e é repórter do programa “Fofocalizando”, do SBT. “Cresci no samba, danço desde pequena. Com isso, me apaixonei por outros estilos de dança, participei de concursos, comecei a trabalhar na televisão. Já fui bailarina do Faustão, atualmente estou em outros balés. Também sou formada em artes cênicas, sou atriz, estou fazendo jornalismo. Sempre gostei desse meio da TV, mas sei o quanto é difícil”, disse a rainha da Tom Maior, que usa sua visibilidade para abrir caminho para quem vem de trás. “No Carnaval, as pessoas têm preconceito muito grande. E a gente sabe que para nós, negras, é muito mais difícil conseguir este espaço. Sei o quanto isso é importante e quero lutar cada vez mais para as meninas entenderem que nós do Carnaval também conseguimos espaço na TV. Chegar aonde cheguei, conseguir estar na TV como bailarina, como jornalista, como apresentadora, ver que posso inspirar, porque somos minoria ainda, é muito bacana.”

Ser referência para outras mulheres, sobretudo as mais jovens, inclui não levar desaforo para casa. Infelizmente, ainda há pessoas que enxergam na fantasia mais curta um convite para falar impropérios, ou pior, tocar no corpo alheio. “Eu sei que, quando a gente está na avenida, as pessoas olham, vão tirar foto, filmar. É normal. Só que tudo tem uma cautela. Teve um rapaz que foi superdesrespeitoso comigo. No final do desfile, ele veio tirar foto da minha bunda de uma maneira completamente desrespeitosa. Veio na maldade mesmo. Quando eu notei isso, eu fui tirar satisfação, pedi para ele apagar a foto. Foi de uma maneira bem grossa, porque você perde a linha. E as pessoas têm que entender que não é só porque você está vestida desse jeito que não merece respeito”, avisou a estrela da Tom Maior.

Por outro lado, Pâmella revela certa desilusão com a festa que tanto ama. “O Carnaval, infelizmente, está se perdendo”, disse. Para ela, o dinheiro hoje se sobrepõe à tradição e escanteia pessoas que cresceram com a escola. “Você vê muitas meninas da comunidade, crias da escola, que estão ali o ano todo ensaiando, dedicando-se, presente nos ensaios, nas festas… Fazendo de tudo para estar bem na escola, porque não é barato bancar sua sandália, o seu vestido, sua maquiagem, cuidar do seu corpo. E nós estamos perdendo cada vez mais nosso espaço para quem tem dinheiro, para a pessoa que chega e paga”, falou a bailarina. “Você se dedica muito e o reconhecimento é cada vez menor. Rainha de bateria e cria da comunidade, como eu, tem pouquíssimas. Quando passou a pandemia, muitas pessoas desanimaram, porque a valorização não é mais a mesma. E assim o Carnaval vai virando esse auê. Infelizmente nossa cultura vai se perdendo”, lamentou.

Confira a entrevista completa com Pâmella Gomes

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