O neurocirurgião Francisco Sampaio explica por que quatro em cada cinco pessoas têm problemas na coluna vertebral

Na entrevista, ele fala sobre os principais problemas resultantes da má postura, as maneiras de evitá-lo e a importância dos exercícios físicos

  • Por Branca Nunes
  • 08/02/2020 13h47 - Atualizado em 08/02/2020 13h51
Arquivo Mulher alongando a coluna Quatro em cada cinco pessoas têm problemas na coluna vertebral

Especialista em coluna vertebral, Francisco Sampaio Júnior é um dos mais renomados neurocirurgiões brasileiros. Nesta entrevista ao programa Perguntar Não Ofende, ele fala sobre os principais problemas resultantes da má postura, as maneiras de evitá-los, a importância dos exercícios físicos, os avanços da medicina e muito mais. E faz uma constatação inquietante: quatro em cada cinco pessoas têm problemas na coluna vertebral. Confira trechos da entrevista:

“Há 10 anos, a Organização Mundial de Saúde calculava que 80% da população mundial tinha ou teria problemas na coluna. A tendência hoje é este número aumentar cada vez mais. A vida moderna, o sedentarismo, a flacidez de musculatura abdominal, a permanência por longos períodos sentado – que é a pior posição para a coluna – o trabalho burocrático. Tudo isso faz com que a doença da coluna esteja cada vez mais presente”.

“O ideal é não permanecer sentado por longos períodos e, quando sentar, manter uma boa postura. Isso faz com que você distribua uniformemente o peso do corpo em cada um dos discos intervertebrais, que nada mais são do que amortecedores que existem entre os ossos da coluna. Se a sua postura for correta, eles duram mais de 80 anos. Se não for, duram 30, 40 anos. Hoje, tenho pacientes operados com 17 anos”.

“O advento do Smartphone e do tablet aumentou muito a incidência desse tipo de doença em pacientes jovens. Existe uma doença que foi relatada três anos atrás chamada “pescoço de smartphone”. Antigamente ela era conhecida como “pescoço de leitor”, mas no passado eram poucas as pessoas que tinham mania de ler por horas a fio nesta posição. Agora, essa doença não respeita idade, classe social nem credo. Ao angular 25 graus a cabeça para olhar o telefone, você aumenta em 150% a carga no disco intervertebral”.

“O correto é olhar na altura dos olhos, com o queixo paralelo ao chão. Mas não existe a postura ideal para ficar no celular. O que existe é um limite de tempo para o uso. Empiricamente, orientamos que as crianças fiquem no máximo duas horas por dia no Smartphone ou no tablet”.

“Postura, restringir a quantidade de horas sentado – para quem trabalha nesta posição, recomendo pelo menos 45 minutos sentado e 15 minutos em pé – e principalmente o fortalecimento dos chamados músculos estabilizadores do nosso corpo e pescoço. Essa musculatura não é fortalecida com a musculação convencional, mas com atividades físicas isométricas, exercício funcional, fortalecimento do Core e pilates. Essa é a fórmula mágica para a prevenção de problemas na coluna”.

“A cirurgia de coluna ficou estigmatizada. Há alguns anos o resultado era péssimo, a cirurgia era muito agressiva, o pós operatório horroroso e com um grande número de complicações. Isso fez com que os médicos mais antigos contraindicassem a operação. O resultado hoje é seguro e muito bom”.

“Tecnologia, sofisticação dos equipamentos e experiência tornaram a cirurgia na coluna muito mais precisa. Quando você, Augusto, operou há 30 anos, os microscópios que existiam eram pouco potentes, rígidos, a luz não era tão clara e intensa. Era necessário fazer um corte maior. Hoje, para operar uma hérnia de disco como a da Bárbara*, o corte tem dois centímetros ou nem é necessário cortar, tudo é feito com endoscopia”.

“O cirurgião precisa ter dom, habilidade. Conheço cirurgiões de 60 anos de idade, que não têm bons resultados. E outros, com 30 anos, que têm resultados excelentes. Eu encontrei o meu dom. E essa habilidade é inerente à pessoa. Você pode melhorar a sua técnica cirúrgica com décadas de profissão, mas não chegará a excelência se não tiver o dom. Associado a isso, bastante dedicação, estudo e enxergar o paciente não como uma patologia, como uma hérnia de disco, mas como um ser humano. Isso é o mais importante, não só para o neurocirurgião, mas para qualquer médico”.

* “Bárbara”, mencionada algumas vezes durante o programa, é a professora de dança Bárbara Nunes, filha e irmã dos entrevistadores, operada em novembro de 2019 pelo entrevistado.

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