No ‘BBB’ do Congresso, o general Pazuello carrega nas costas o peso de defender governo e Exército

Governo se atrasou e permitiu maioria oposicionista na CPI da Covid-19, mas tentou manobra para que general não vá ao plenário dar seu depoimento

  • Por José Maria Trindade
  • 05/05/2021 13h28 - Atualizado em 05/05/2021 13h28
Alan Santos/PR - 16/01/2020 Posicionado atrás de um palco, o general Eduardo Pazuello fala para um público visto de costas na imagem (aparecem as cabeças dos presentes) O general e ex-ministro Eduardo Pazuello terá de evitar acusações contra o governo e o Exército na CPI da Covid-19

O plenário de CPI é um cenário de guerra. No caso da CPI da Covid-19, não é diferente. Ali estão todos os personagens. Os gritadores, técnicos, aproveitadores e os que, por incrível que pareça, querem mesmo investigar. É, existem os que acham que a investigação é séria, também estão por lá. Toda comissão já começa com um relatório final pronto na cabeça do relator. Este documento começa a ser modificado com o passar das investigações. A chegada de documentos é mais importante do que os conhecidos e espetaculosos depoimentos. Quando uma CPI começa, todos tremem. Os que estão no poder, muito mais, mas o certo mesmo é que ninguém sabe como ela acaba. É um “BBB” onde os personagens não conseguem dominar as suas performances em plenário. 

Os primeiros depoimentos na investigação mostram que o objetivo é formatar o discurso. Não há novidade. O ex-ministro Henrique Mandetta falou como o magoado que não conseguiu impor a sua opinião. O presidente da República é eleito exatamente para tomar decisões com base nas informações dos auxiliares. Mandetta tinha a certeza de que ele era, na verdade, o presidente. As decisões são, por natureza, arriscadas e difíceis de serem tomadas, e para isso existe o chefe de Estado, eleito diretamente pelos cidadãos. Não se pode delegar atos como fechar o país, trancar pessoas em casa, deixar famílias inteiras à deriva — sem indicar como elas vão sobreviver — e definir as prioridades de compras e equipamento de hospitais. Algumas decisões escapam do entendimento e do nível de informação de um ministro. Daí a naturalidade com que deve ser aceito o presidente ter outros conselheiros e não decretar o que quer um ou outro ministro. 

O relator, senador Renan Calheiros, o presidente, senador Omar Aziz, e o vice-presidente, senador Randolfe Rodrigues, estão, na verdade, tentando puxar os controles da disputa aberta de 2022. Este é o processo. O governo se atrasou na formação e permitiu uma maioria muito clara no plenário. Terá dificuldades. Apesar da minoria, o grupo do Palácio não pode dar por perdido e precisa reagir. Informações aos parlamentares, pressão para manter a defesa firme dos atos do governo e tropa de choque diária. Esta é a fórmula de sempre. A oposição já está armada e tem experiência neste tipo de disputa. É a primeira CPI do governo Bolsonaro.

Entre as estratégias, está o recuo do general. O ex-ministro Eduardo Pazuello tentou fazer um depoimento remoto. Seria mais tranquilo. Não conseguiu, apesar dos sinais claros de atuação do governo. Ele terá que ir ao plenário se defender e, como assessório, evitar acusações contra o governo. Pazuello carrega uma responsabilidade extra: vai para o plenário, fardado ou não, como um general da ativa. É uma novidade em tempos de CPI. O Exército sabe disso e desenvolveu um trabalho de desvinculação e proteção à imagem das Forças Armadas. O general resistiu às investidas para dar baixa e ir para a reserva. Ele quer ser o primeiro general de intendência a ganhar a quarta estrela. É assim que o ex-ministro enfrenta o tribunal, político por natureza, de uma CPI criada para tentar mudar o curso da história.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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