A decepção com uma heroína
Muita gente importante importante, do bem e do mal, não vai dar as caras na assembleia geral da ONU, na semana que vem, aquela que terá a primeira aparição de Donald Trump. Entre os ausentes, Vladimir Putin, Xi Jinping e Angela Merkel.
E uma ausência notável será a de Aung San Suu Kyi, líder de fato de Mianmar, Prêmio Nobel da Paz e que costumava ser ovacionada em convescotes globais. Não mais. Ela achou melhor não dar as caras em Nova York em meio a críticas sobre como ela lida com a crise da minoria muçulmana no seu país, a minoria Rohingya.
Afinal, a própria ONU disse que este havendo “limpeza étnica” em Mianmar, com vilarejos inteiros sendo queimados pela maioria budista. A minoria vive há gerações no país do sudeste asiático e, no entanto não tem direito à cidadania. Quase 400 mil rohingyas fugiram para Bangladesh devido à nova onda de hostilidades.
Quando não é o silêncio de Suu Kyi, é a sua acusação de que existe “desinformação” sobre o problema. Que ironia. Esta ex-heróina da resistência, perseguida e presa pela ditadura militar por seu ativismo pró-democracia, usando linguagem de regimes autoritários.
Existem até petições rolando pelo mundo para que Suu Kyi seja despojada do seu Nobel (impossível). Companheiros do prêmio, como o Dalai Lama, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, e a garota paquistanesa Malala Yousafzai, pedem que Suu Kyi faça algo para conter a violência.
Em termos práticos, Suu Kyi compartilha o poder em Mianmar com os militares. Sua posição formal é a de ministra das Relações Exteriores, embora seja mais importante do que o presidente.
Sem dúvida, é complicado policiar o que os militares aprontam em nome da segurança nacional e Suu Kyi faz o cálculo político de que não pode irritar os nacionalistas budistas em Mianmar.
No entanto, não há como não se decepcionar com a ausência de fibra e de bússola moral de alguém que tanta inspiração e respeito disseminou no mundo quando era perseguida justamente por sua coragem e princípios.
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