Morte de João Alberto foi um crime praticado por monstros, não oriundo de racismo estrutural

Projetar um crime coletivo em crimes pessoais é tirar a responsabilidade do indivíduo e culpar a sociedade pelo que ela não fez e pelo que ela não é

  • Por Adrilles Jorge
  • 28/11/2020 12h29
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Reprodução de vídeo/19.10.2020 Seguranças batem no cliente João Alberto Freitas em estacionamento do Carrefour João Alberto Silveira Freitas morreu em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre após ser espancado por um segurança e um PM

Um homem foi covardemente espancado e morto por ter agredido um segurança e intimidado uma mulher no Carrefour. Um homem negro. O caso revela uma espiral de violência e despreparo de seguranças e da fiscalização do supermercado – mas não necessariamente implica racismo: necessariamente implica covardia e monstruosidade. Debitar toda e qualquer agressividade humana em causa identitária, em causa racialista, não só não ajuda como piora o preconceito. E piora o problema. O Carrefour prontamente comprou a tese do racismo estrutural como causa do homicídio. Disse que criará mais políticas inclusivas. Mas ignorou solenemente a causa real do crime: o despreparo de seus seguranças. Pediu desculpas por algo subjetivo – o suposto racismo dos assassinos e ignorou o problema real: a desqualificação de seu pessoal. Este um exemplo da criação de um suposto problema que criminaliza toda a sociedade brasileira, ignora as causas reais de um crime e joga responsabilidade no povo por um conceito questionável de racismo estrutural, um conceito que ainda por cima joga pessoas umas contra as outras no Brasil, fomentando ainda mais preconceito entre etnias – justamente no país mais miscigenado do mundo.

Claro que só um idiota diria que não há racismo no Brasil. Mas identificar onde e como ele existe é a tarefa do combate ao preconceito real. Ver preconceito onde ele não existe cria ressentimento e mais preconceito. A tese do racismo estrutural é exatamente a base desta destilação de preconceito por toda a base da sociedade brasileira. Ora , se todos são subliminarmente racistas, ninguém é racista. E então o verdadeiro racista, aquele que despreza, humilha e massacra outra pessoa por sua etnia, comemora sua impunidade. O período imediato da pós escravidão jogou negros na rua sem condições mínimas de trabalho; jogou negros na exclusão social, na pobreza, na marginalidade. Esta associação do biótipo do negro, sobretudo do negro retinto à pobreza e a uma possível marginalidade é um preconceito oriundo desta exclusão histórica. Um tipo de racismo que ainda existe sim como uma chaga da memória da escravidão.

Mas é mais um preconceito contra a pobreza, mais uma estereotipia da estética da pobreza que um racismo fenotípico explícito. Poucos, muito poucos no Brasil são os reais racistas que ainda associam a pele negra com uma questão intrínseca ao caráter. Embora a pobreza seja associada à negritude, muitos negros ascenderam socialmente pelo mérito e, sobretudo, muitos negros se misturaram a brancos, formando – é bom repetir – o povo mais miscigenado do mundo. A separação entre brancos e negros num país tão misturado como o Brasil já é uma ideologização identitária forçada.

Os que criam a tese do racismo estrutural dizem que negros são tratados de maneira diferente em certos ambientes. Pode ocorrer por este preconceito estereotipado. Pode ocorrer uma abordagem policial ou por um segurança de supermercado. Mas observem: qual a cor da maioria dos policiais? Negra e parda. Qual a cor da fiscal que deixou o rapaz negro ser linchado no Carrefour? Negra. A maioria da população negra e parda que entra no crime é morta por uma maioria negra de parda. Existe, sim, um problema de exclusão social ligada à cor da pele. Mas não há um conflito étnico entre brancos e negros. E – importante salientar – a gigantesca maioria da população negra e parda e pobre no Brasil é honesta e trabalhadora. Ou seja, o crime é sobretudo uma questão de índole. Não de origem social.

O crime hediondo que ocorreu no Carrefour aconteceu por uma falta gigantesca de caráter dos envolvidos. Debitar isto na conta subjetiva de um conceito difuso de um racismo estrutural é criminoso. Foi uma falha, uma falta de caráter dos criminosos ali presentes. Nenhum brasileiro digno cometeria tal monstruosidade. O crime ali foi praticado por monstros. Por indivíduos monstruosos. Não um crime oriundo de um suposto racismo estrutural social. Sim, A estereotipia da pobreza ligada à negritude existe. Um preconceito real. Um preconceito pontual e circunstancial. E deve ser combatido quando identificado. Mas esta estereotipia não pode ser traduzida como um tipo de racismo de essência na base de toda a sociedade brasileira.

Não dá para chamar de essencialmente racista um povo essencialmente miscigenado. Existe violência e preconceito no Brasil, mas não dá pra dizer que o povo brasileiro é essencialmente racista. Jamais. Este o erro do conceito absurdo de racismo estrutural. A ponte para o combate real ao preconceito racial está na mistura das etnias, das culturas, não na separação entre raças. Uma ponte para a construção de uma raça humana e misturada, que se abre a diferenças que se fundem. Projetar um crime coletivo em crimes pessoais é tirar a responsabilidade do indivíduo e culpar a sociedade pelo que ela não fez e pelo que ela não é.

O Brasil não é racista. Existem racistas no Brasil. O Brasil não é violento. Existe violência no Brasil. São coisas bem diferentes. O crime no Brasil é uma exceção. O racismo real no Brasil é uma exceção. A maioria do povo brasileiro, do povo pobre brasileiro, do povo negro, pardo, branco e misturado é digna. Querer impor um crime ou preconceito à maior parte deste povo é o crime de uma política identitária que quer dividir uma nação unida pela mestiçagem entre os vários contrastes de um povo que convive e ama as diferenças em sua imensa maioria. 

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