Alexandre Borges: Sidão e o perigo dos linchamentos virtuais

  • Por Alexandre Borges/Jovem Pan
  • 14/05/2019 09h05 - Atualizado em 14/05/2019 13h44
Reprodução Sidão, como você já sabe, foi vítima de uma pegadinha

O paulistano Sidney Aparecido Ramos da Silva não teve uma vida nada fácil. Como muitos brasileiros, sonhava em ser jogador de futebol. Começou a jogar em times pequenos até chegar ao São Paulo e depois ao Corinthians, onde tomou decisões ruins para sua vida, se envolveu com bebida e drogas, e abandonou a carreira.

Nesta época, Sidney perdeu a mãe e se culpou, entrando numa forte depressão que quase levou ao suicídio. Ele acabou dando a volta por cima. Casou, voltou para a igreja, colocou a vida em ordem e reconstruiu a carreira de goleiro, um caso admirável de superação.

Neste domingo, no Dia das Mães, o goleiro Sidão jogou com o nome de dona Vera Lucia nas costas, uma homenagem póstuma do filho que pode orgulhar a memória da mãe tendo passado por tantos desafios, recuperado a própria vida e vencido.

Sidão, como você já sabe, foi vítima de uma pegadinha. Ele virou alvo de uma mobilização nas redes sociais para ser escolhido craque do jogo numa enquete promovida pela TV Globo. O Vasco perdeu de 3×0 para o Santos, Sidão não teve uma boa atuação e a pegadinha funcionou, ele foi escolhido e acabou recebendo o prêmio, protagonizando uma das mais constrangedoras cenas da TV dos últimos tempos.

Não tenho nada contra o humor, muito pelo contrário, ou pelas brincadeiras saudáveis que fazem a graça do futebol. Não tiro do torcedor do Vasco o direito à revolta com a péssima atuação do jogador no domingo, cometendo vários erros e de forma insistente, e Sidão de forma alguma, como profissional, deve ser blindado de críticas.

O que aconteceu no domingo que merece reflexão é a maneira como as redes sociais estão mudando a vida social em todos os sentidos e não apenas positivos. Por trás do anonimato, de perfis falsos, mobilizados pelo próprio vazio existencial, muitos acabam usando as redes sociais como forma de extravasar os piores sentimentos em campanhas coordenadas de assassinato de reputação, repetição de mentiras ou difamação.

A adaptação do mundo às novas tecnologias da informação será confuso e incerto, mas sou otimista em relação ao resultado final e às transformações que a sociedade vai passar. A fé no futuro não impede ninguém de refletir sobre os efeitos colaterais dos linchamentos virtuais e do uso das redes sociais como uma válvula de escape imaginária para quem não tem uma vida real.

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